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Referências e teorias sobre o nome Itapocu. Correio do Povo, de Jaraguá do Sul. José Alberto Barbosa
14 de julho de 1989ver ano
  
  
  
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I) O Rio Itapocu e sua importância histórica e o problema toponímico que oferece

I.1 - o Itapocu é rio que, tendo formadouros na Serra do Mar, verte por uma centena de quilômetros em chão catarinense, passando por Corupá

O rio Itapocu assume grande importância histórica, particularmente para catarinenses e paranaenses. Já nos tempos pré-colombianos, era importante ramal do afamado e perlustrado caminho nativo do Peabiru. Com a vinda dos povos brancos, lusos e espanhóis, o Itapocu tornou-se logo uma das preferidas todas de acesso por terra do nosso litoral a Assunção do Paraguai e vice-versa. Pelo Itapocu entraram e saíram aventureiros, bandeirantes, viajantes, colonos, padres, nativos. A empreitada mais afamada, foi a expedição, em 1541, do Adelantado espanhol D. Álvares Nuñez Cabeza ded Vaca e sua enorme comitiva, logo após haver, em nome da Espanha, tomado posse da Ilha de Santa Catarina.

Referências e teorias sobre o nome Itapocu. Correio do Povo, de Jarag...
14 de julho de de 1989, sexta-feira (Há 36 anos)
  
  
  

De tantas andanças resultou uma diversidade de pronúncias e grafias do nome: Itapocu, Itapucu, Itabucu, Itapecu, Itapicu, rio Tapuca, rio dos Dragos. Isto gerou dificuldades quanto à toponímia. Além disso a nominação tupi-guarani, em seu sistema de construção de vocábulos, conduz a fáceis homofonias, reduzindo as certezas interpretativas: não há falta, mas excesso de soluções. A presença, perto da foz da Armação de Itapocoróia, sugere um correlacionamento. Também em geral se attribui, na formação do termo, o afixo "itá" (pedra) o que, se vero, gera um problema, visto qu eo nome se atribui a rio, então, clama-se por um "y" (rio, água) final, inexistente. O "y" ou "i" inicial, portanto, pode ser já designativo de rio. Itapucu em outros tempos, caso contrário, haveria de ser Itapucuy, Itapucui ou, eventualmente, Itapocuy, Itapocui, e isto não ficou registrado historicamente. Inclino-me a pensar, portanto, que a expressão inicial "I" é designativa de rio, água.

1.3 - Já se vê que há problemas etimológicos a resolver. No mais, tenho contestado as interpretações correntes sobre o nome, firmado que o mais provável é a nominação a partir da interessante condição geológica da sua foz e não em montanha, pedra alta, cachoeira, como até antes de mim se fez. Já tive oportunidade de escrever antes três artigos em que discuti o assunto (v. Barbosa, 2, 10, 16). No presente trabalho, a par de examinar as referências e teorias que colhi sobre o nome Itapocu e suas variações e ainda outra denominação dada - rio dos Dragos - também revejo, por um processo de maturação, minhas próprias teorias. E acrescento algumas especulações. O presente estudo restringe-se todavia ao nome do rio Itapocu, em Santa Catarina. Omite-se sobre topônimos homófonos de outros Estados.

II) Referências e teorias etimológicas e toponímicas

2.1 A) A referência de João Sanches

Tendo D. Álvar Nuñez Cabeza de Vaca vindo ao Brasil após trágicas aventuras na América do Norte, fundeou suas naus nas cercanias da foz do Itapocu, mandando um grupo de homens investigar sobre um caminho seguro para Assunção do Paraguai através o nosso hinterland. Esperou perto da foz por catorze semanas até que seus emissários retornaram com recomendação de indígenas de que fizessem a jornada ingressando pelo rio Itapocu. Isto ele fez, à frente de 250 besteiros e arcabuzeiros, além de índios, padres e outros da comitiva que incluía 26 cavalos. Quanto às naus, mandou-as a Buenos Aires. Isto deu-se no distante ano de 1541. Só em 1542 chegariam a Assunção.

Entrementes, enquanto por aqui a frota esteve, seu piloto-mor João Sanches, natural de Biscaia, registrou para o rio o nome Itapocú (que Cabeza de Vaca anotou Itabucu). Deixou-nos a respeito afamada Carta-descrição relatando tal visita. E Sanches traduziu o nome por Pedra Alta. A tradução todavia, é incompatível com o rio, se não for acompanhada de complemento indicativo de rio (como um sufixo "y", rio, em tupi-guarani). Verdade que João Sanches e toda a mais comitiva de Cabeza de Vaca e o próprio deveriam ter, com inteira certeza, uma bela visão do nosso Morro da Boa Vista (popularmente chamado também Morro do Jaraguá), com quase mil metros de altura, majestoso e dominando o Vale do Itapocu. A bordo dos navios, algo afastados do quebrar das ondas na linha costeira, onde fundeados, teriam excelente visão dele. Pode ser em que em razão disto tenha traduzido o nome por Pedra Alta. Amadeus Mahfud me alertou para essa visão e falo dela em artigo anterior (10). É muito significativo que Sanches tenha evidenciado que o rio se chamava meramente Itapucu. Convida a que, no rio, encontremos a explicação alternativa e ainda como mera especulação.

E convida à busca de solução em outros acidentes de seu percurso.

2.2 - Importante frisar que D. Álvar Nuñez Cabeza de Vaca, o adelantado espanhol, tendo deixado registro dessa sua entrada pelo rio Itapocu, apela-o Itabucu. O Dr. Cyro Ehlke chama a atenção para isto, afirmando que o nome, originalmente apontando, dexa ser Itabucu (3), Lacalle, histloriador espanhol, chegou a referir que Cabeza de Vaca mencionou rio Itacumbu, mas posteriormente o próprio Lacalle deve ter admitido estar em lapso, pois escrevendo na Espanha, retomou a grafia Itabucu. Itacumbu pode ser inversão de Itabumcu (13).

De qualquer modo não vemos no caso dificuldade alguma, embora anteriormente tivéssemos visto conflito de pronúncia entre Itapucu e Itabucu (2, 10), pois na realidade linguística, "bucu" é mera nasalização de "pucu", como lembra L. C. Tibiriçá (4) tanto sendo assim no tupi-guarani, quanto nos falares espanhol e português, sendo de todo comum trocar-se "p" por "b". De observar que "pucu" comporta várias traduções: alto, comprido, largo, longo, durador.

Assim como não deve nos impressionar a troca de "p" por "b" (ambas consoantes bilabiais com o mesmo ponto de articulação), também não nos deve preocupar a grafia Itapocu ao invés de Itapucu. É que até poucos anos era usual, no português e espanhol, grafar-se a letra "o" mas pronunciando-se "u". São comuns, a demais, as permutas entre "o" de "u", ambas vogais orais. Assim é que temos o convívio histórico, de páscoa e páscua, língoa e língua e muitos e fatos exemplos. Além disto os espanhóis já tinham, como tem, muitos dialetos. Querer a pronúncia uniforme, dentre eles, seria o mesmo que pretender a língua única, dentre os lusos, de minhotos e trasmontanos, beirões madeirenses. Por isso não deve impressionar o nome pronunciado como Itabucu, afirmado por Cabeza de Vaca e adotado por exemplo por Southey (5). Pessoalmente, tempos passados, impressionou-me. Ao meditar porém, percebo que "bucu" é mera nasalização de "pucu" e, pesquisando em L. C. Tibiriçá (4) vi confirmação disto, no linguajar tupi-guarani.

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14 de julho de de 1989, sexta-feira (Há 36 anos)
  
  
  

De qualquer forma o registro de João Sanches para o nome Itapucu e o de Cabeza de Vaca para a forma Itabucu (nasalização daquela) tem especial importância face a sua antiguidade, pois estiveram na foz do Itapocu em 1541, quatro décadas apenas a contar da descoberta do Brasil. E é notável que, mesmo com algumas variações registradas, o nome se manteve através dos séculos. [p. 9]

O ocorrido com um índio apelado Itapucu, só que filho das terras maranhenses, serviu para testemunhar também no francês a correção da pronúncia tal qual a dá João Sanches, embora sem correlação com o nosso rio. O índio Itapucu esteve em França, na Corte de Luís XIII (o mesmo do romance "Os Três Mosqueteiros"), quando a mãe deste era Regente do trono - era Maria de Médicis. Itapucu fez então um discurso laudatório, na língua tupi, no qual agradecia a assistência dada pelos capuchinhos franceses aos índios "Maragnam" (maranhãos). A tradução para o francês foi muito afastada do original. Mas Itapucu passou para a História e seu nome registrado em francês, Itapoucou (ou seja, pronunciando-se exatamente Itapucu) testemunha também em tal língua a pronunciação. Esse discurso é registrado pelo Padre Claude d´Abbeville na sua "Histoire de la Missión de Pères Capucins en 1 ´Isle de Maragnan et Terres Circonvoisines´". O discurso foi no Palácio do Louvre. Plínio Ayrosa registra esse fato (6).

B) A opinião de Saint-Hilaire

2.3 - O francês Augustin Françóis César Prouvensal de Saint-Hilaire) (na literatura, Auguste de Saint-Hilaire) percorreu o Brasil vastamente até 1822, tendo deixado valiosíssimo estudos históricos, etnográficos, etimológicos de nossa terra. Também esteve em Santa Catarina e, a respeito do nosso rio Itapocu, opinou que o nome poderia provir de "Ytapecy", nome tupi-guarani que traduz por pedra côncava. Quanto à pronunciação do nome do rio, registra ser Itapicu, dizendo ser essa a pronúncia que colhei no local e também baseando-se em a "Corografia Brasílica", de Aires de Casal. Saint-Hilaire, porém, reconhece que a etimologia do nome em questão não é caso resolvido, e que Leónce Aubé ("Notice". 1847), ao escrever Itapecu "aproximou-se ainda mais da etimologia indígena" (7).

As expressões tupi-guarani para côncavo são "pyguá", "pyguaia", "pycoe". A idéia de Saint-Hilaire seria, portanto, a origem em "Ytapycoé". Foi levado a isto por lhe parecer que a pronúncia certa do nome seria provavelmente Itapicu. Deve ter-se defrontado meramente com deturpação na pronúncia. Aires de Casal não se arrisca a uma tradução do nome, que registra Itapicu. Apenas diz que tal rio "parece ser o rio dos Dragos, que os primeiros descobridores puseram ao Sul do São Francisco" (8). mais adiante discuto esse assunto também.

C) Aubé, Van Lede e Avé - Lallemant

2.4 - Como observa Saint-Hilaire (7), Léonce Aubé registrou o nome do rio como sendo Itapecu e Van Lede fez o mesmo (aquele em "Notice", 1847, este em "Colonisation"). Essa é também a pronúncia que registra Robert Avé-Lallemant, no seu "Viagem pelo Sul do Brasil no ano de 1858", in vesbis: "Na embocadura do Itapecu fizemos alta da areia deserta. O considerável Rio Itapecu formou aqui uma verdadeira enseada de três milhas de comprimento" (9).

Sobre essa pronúncia, Itapecu, eu própria construí uma minha primeira hipótese, relacionada com um importante evento geológico, qual seja o rompimento, pelo rio Itapocu, do areão compactado, onde passou ele a penetrar diretamente no Oceano, ao invés de descer para a antiga barra (Barra Velha). O nome Itapecu presta-se muito a isto (Barbosa).

2) A questão é a seguinte: na foz do rio Itapocu, houve um trabalho geológico de deposição sedimentar, formando-se uma língua de areia compactada, impediente ao ingresso do rio Itapocu diretamente no mar. Chegando ali suas águas, guinavam, correndo rente à costa, daí que sua foz já foi na Barra Velha (daí tal nome) como também pelo norte, desaguava no antanho pela Lagoa da Cruz. O rio, no trabalho secular de suas águas, rompeu com esse paredão de arenito, jogando suas águas diretamente no Atlântico. Esse evento, testemunhado pelos índios (visto que a ocupação de nosso litoral pelos indígenas é de milênios como o provam as datações dos mais antigos sambaquis) nos surge como de fato de especial importância (...) capaz de chamar atenção do povo primitivo e levá-lo a nominar o rio a partir de tal evento, muito mais importante que, por exemplo, o salto de Guamiranga ao qual haja quem queira correlacionar o nome mas que é fato geográfico de menos expressão - um pequeno desnível.

2.5 - Meu primeiro estudo, intitulou-se "Sobre a origem da palavra Itapocu" (Correio do Povo, 29.03.1975). Ali sustentei que a razão parecia estar com Avé-Lallemant, quanto à pronúncia e grafia Itapecu. É que ele, embora não dando interpretação do nome, descreve muito bem o quebramento do paredão que impedia o rio de entrar no mar, quando diz: "O centro da língua de areia é quebrado e o rio corre para o mar através da abertura, com grande velocidade" (opus cit.). Realmente, em tupi-guarani, o termo "apecú" (apecum) significa língua, Itapecum é, portanto, língua de pedra, ou seja, o solo sedimentar compactado em forma de língua (faixa estreita), lembrando uma língua por ser uma extensão comprida de solo entre duas águas: de um lado, o mar, de outro uma grande lagoa - depois dividida pelo rio em suas, a da Cruz (ao norte) e a da Barra Velha (ao sul).

O próprio Theodoro Sampaio que traduz Itapocu por Pedra Alta. Pedra Comprida não obstante, no seu "O Tupi na Geografia Nacional" menciona o termo Itapecum, traduzindo-o por "a língua de pedra" e, importante, lembrando que tal denominação é própria do Estado de Santa Catarina. E tratando do vocábulo "apecum", diz: "apé-cum, a superfície alongada: o chato em forma de língua. é como se designa, à beira-mar, os tratos de terra, planos, lidos, que a maré cobre e descobre alternadamente, e onde não cresce vegetação alguma" (11). O nome Itapecu se adapta pois extraordinariamente ao rio correlacionando este com o rompimento de um obstáculo - um "itapecum". Inclusive a pronunciação "itapecu" convivendo com "itapecum", porque no tupi quinhentista a pronúncia para "apacú", clamava pela nasalização do "ma", produzindo duas pronunciações (como em "curumi", que gerou "curumi" e "curumim").

Essa minha teoria sofreu ardoroso rebate do ilustre tupinólogo e grande amigo Hermes Justino Patrianova, para o qual uma língua de pedra não originaria o nome Itapecu ou Itapecum ou mesmo Itapocu ou Itapucu, mas sim Ybycuicu ou Ybycuiaapecum. Comentei o assunto e apresentei ainda uma outra teoria (que mais adiante consigno), num segundo escrito, "Hipóteses sobre o nome Itapocu" (Correio do Povo, 2/8 e 9/15 de novembro de 1985 - v. barbosa, 10). Depois Patrianova reviu sua posição (v. item 2.12).

Mantenho a hipótese supra, secundariamente, tenho hoje outra mais favorita e igualmente adequada ao referido quebramento da rocha na foz do rio. Esclareço-a mais adiante. Mas apresento nova teoria com o nome Itapecu, relacionando o nome com antigos caminhos (III, D, 30-14)

2.6 - O nome Itapecu comportaria alguma ressalva se o "ita", nele significar pedra, no que tange a falta de um "y" (rio, água) no término da expressão. É que para termos em tupi-guarani o nome rio Itapecu, seria o caso de dizer-se, então, "Ytapecuy". Também é preciso observar que a expressão "Ytapucu" também serve para a designação daquela mesma língua de pedra que o rio rompeu, pois compreende também a tradução por rocha comprida, rocha alongada. Outrossim, a ocorrência da pronunciação Itapicu (Saint-Hilare, Casal) serve de amparo à expressão Itapecu, anterior. Há historicamente, uma tendência para a vogal "e" ser pronunciada com o som de "i", isto é, tornar-se mais aguda. É assim que itapecuru tem pronúncia transmutada em itapicuru, fora de nossa área geográfica. E Itapecu pode ser apócope de Itapecuru e Itapicu de Itapiucuru. Por que não poderia?

D) Theodoro Sampaio, Mauricea, Boiteux

2.7 - Theodoro Sampaio, Christovam de Mauricea, Luccas Boiteux e outros, seguindo João Sanches, tem aceito a expressão original Itapucu e a tradução por Pedra Alta (e alternativamente, Pedra Comprida) que, já foi dito, é perfeitamente adequada à língua tupi-guarani.

2.8 - Pessoalmente faço ressalvas, porque nenhum monte da região o nome Itapocu e, se o fosse, faltaria um "y" sufixal, indicativo de rio, ou seja, rio da Pedra Alta seria Ytapucuy. Como está seria preciso entender que simplesmente avistava-se uma Pedra Alta (um morro?) e que o rio fora batizado por brancos, daí o hibridismo rio (português) Itapucu (tupi-guarani). Não seria estranhável, porque na comitiva de Cabeza de Vaca havia índios do rio da Prata, além do que os próprios brancos já falavam, na época, o tupi-guarani. Além da ressalva retro, porém, apresento outra: os tupi-guaranis não teriam deixado de por eles mesmos nome no rio, quando nominaram a quase totalidade dos acidentes geográficos da região, inclusive menos importantes que o rio em apreço.

Isto tudo convida a novos estudos, inclusive (como faço mais adiante) tomando-se o "I" inicial do nome Itapocu para já por se significar rio. Porque nada impede uma convergência, uma homofonia, em que em outras partes do país apareça um monte Itapucu (ou Itapocu) e em nossa área haja um "Y (rio) Tapucu".

Já se vê que a questão não é de fácil solução.

2.9 - Há quem pense que a expressão Pedra Alta tenha relação com o salto de Guamiranga, pequeníssima cachoeira não distante da foz do Itapucu e onde o rio tem desnível do seu leito. Na verdade nada mais é que um rápido, um encachoeirado, que obriga os canoeiros a deixarem o curso d´água e contornarem por terra. [p. 10]

É suficiente para impressionar justamente por isso, Saint-Hilaire, por exemplo, não deixa de referir que essa queda poderia ser nivelada (7). Norberto Bachmann inclusive sustenta que Theodoro Sampaio, Christovam de Mauricea e Lucas Boitex grafam Itapocu "itá", pedra, e "pocu", comprida, em alusão às lajes da cachoeira de porte insignificante e na obra mais conhecida de Theodoro Sampaio - "O Tupi na Geografia Nacional" - não vi os topônicos Itapucu, Itapecu, Itapucu, mas apenas Itapecum, onde Sampaio diz: "itá-apecum, a língua de pedra. Santa Catarina. V. apecum" (11). Ver o item II. C 2,5,m retro. Assim, se já referido no presente trabalho que Theodoro Sampaio traduz Itapocu por Pedra Alta. Pedra Comprida, assim como as opiniões de Mauricea e Boiteux, faço-o por informe de terceiros, que são Bachmann (12) e Frei Aurélio Stulzer (13), este meramente citando aquele que também li no original. Também devo frisar que Bachmann se refere à cachoeira "perto de Guaraminrim" que no caso, penso seja referência ao salto de Guamiranga e não ao ligeiro desnível do rio no local onde é situada a própria cidade de Guararamirim.

Observo também a inteira conveniência de pesquisar-se Boiteux que deixou ampla bibliografia de estudos toponímicos regionais.

Pessoalmente entendo que o nome Itapocu (Itapucu) não tem correlação com o salto do Guamiranga (ou de Guamiranga). O salto é ínfimo, um mero rápido do rio. Mais razoável afinar-se a origem do nome, então, no itapecu da foz, rompido pelo rio e difícil para travessia. As pessoas para penetrarem pelo rio, primeiramente desciam sobre o itapecu (a língua de areia) e dali passavam pela lagoa, escolhendo o ponto melhor, evitando a fúria das águas do rio Itapocu. É portanto razoável que esse itapecu (rompido pelas águas) acabasse por nominar o rio. Robert Avé-Lallemant diz bem claro das dificuldades de travessia e da necessidade de, primeiro, descerem sobre o itapecu (areão), seja vindos a cavalo (como ele veio) ou seja vindos a cavalo (como ele veio) ou seja de embarcação (canoas, batelões): "Na embocadura do Itapecu fizemos alta na areia deserta"; "O centro da língua de areia é quebrado e o rio corre para o mar, através da abertura, com grande velocidade"; "Encontrávamo-nos entre o mar e a estreita Lagoa do Itapecu. Tivemos de gritar muito tempo até que do outro lado da lagoa apareceu um homem e empurrou uma canoa. Desselamos. Parti primeiro com toda a bagagem. Mas, com a pequena embarcação não se pode atravessar a correnteza, cortando-a; é preciso fazer uma curva na estreita lagoa para evitar a correnteza" (9). Perto disso, a passagem do salto do Itapocu, em Guamiranga, era muito fácil, bastando ligeiro contorno por terra. No mais, como o mais provável é que o povoamento indígena do Itapucu deu-se a partir da foz (pelo menos na região, os guaranis optaram pela área litorânea, como antes deles o povo dos sambaquis nos quais os guaranis são até cultura intrusiva), o itapecu rente à foz do Itapocu deve ter chamado a atenção por primeiro, Casal, fala da pouca dificuldade à navegação do rio e fala da cachoeira (8).

Aliás, em meu ver, se houvesse preocupação com cachoeira, ao invés de Itapucu (Pedra Alta, pedra Comprida), teríamos o nome Itapucu (Cachoeira Alta, Cachoeira Comprida), na origem, alvo de posterior corruptela.

E) Bachmann e o estrondo das águas

2.10 - É ainda em Norberto Bachmann (12) que li que alguns autores (quem?) "lembrando também a cachoeira, diga dignificar itá, pedra, poc, estalar e ú, grande ou seja pedra (onde a água estrondeia grandemente" (opus cit.).

Essa versão é em meu ver muito apropriada, mas não correlacionando-se com cachoeira e sim com o próprio rompimento do itapecu (areão compactado) pelo rio, no antanho. Como adiante sustento. Essa versão (como a minha) oferece uma construção com o nome Itapocu e não Itaucu, divorciando-se portanto da versão de João Sanches, de que o nome do rio era Itapucu. Itapocu seria, pois, a forma correta. Itapucu seria corruptela de pronúncia. Mas é só teoria.

F) Cel. Jourdan e o rio Itapuen

2.11 - No dizer do historiador Pe. Frei Aurélio Stulzer, o nosso colonizador local, Cel. Emilio Carlos Jourdan, escrevendo, para a Gazeta de Notícias, um artigo, nele ficou consignado o rio como sendo chamado Itapuen. Mas no ver de Frei Aurélio isto pode ter sido mero erro de revisão falha da impresa, não tendo o revisor percebido o eror na composição.

Realmente deve ser assim, porque o nome Itapócu era generalizado e conhecido, para o rio, já décadas antes da vinda de Jourdan ao Vale do Itapocu, nome que, como se vê, já vigora aliás há quatro séculos e meio. Jourdan não poderia desconhecer isto.Conduzo o leitor a Frei Aurélio (13).

G) A opinião de Hermes Justino Patrianova

2.12 - Esse culto jornalista residente em Itajaí, fertilíssimo tupinílogo e etimologista, não deixou de estudar o nome Itapocu. No seu volumoso e ainda inédito "Topônimos Brasileiros. Com Tradução dos de Origem Indígena" (Itajaí), ele primeiramente aceitava a versão de João Sanches ("itá, pedra mais "pucu", alta, comprida, longa), que Christovam de Mauricea punha no seu "Nomes Geográficos Aborígenes". Mas, quando lhe mandei meu primeiro trabalho (2) sobre o assunto, Patrianova discordou. Como já disse, no ver dele, a léngua de areia da barra do Itapocu não se apelaria "itapecum", mas sim, em tupi, "ybycui" e no dialeto carani (guarani) seria "yvycuí". Disse que se a grafia Itapecu (de Avé-Lallemant e outros) fosse correto, o nome do rio seria Ybycuicu ou Ybycuiapecum e nunca Itapecu. Itapucu ou Itapecu (carta de 19.08.82). Depois o ilustre pesquisador veio a rever sua posição. A ideia da língua de areia como "itapecum" pareceu-lhe correta (embora não forçosamente esteja ai a origem e penso o mesmo também - é questão em aberto).

Escreveu-me novamente, em 06.09.84 dizendo que reviu a matéria e mandando-me nova ficha do topônimo Itapocu. Sobre o assunto, comentei no meu segundo trabalho, "Hipóteses sobre o nome Itapocu" (10). Adiante transcrevo trecho da ficha remetida por Patrianova:

Itapocu. Origem Tupi: Y igual I (água, rio, águas) mais Tá (caindo, nascendo, embarcando) mais Apó (raiz, como raiz, semelhante a raiz) mais Cu igual Cu (língua) ou Cu (contração de Pucu - comprida, larga, alta) igual língua como raiz nascendo no rio igual língua semelhante a raiz nascendo nas águas igual raiz comprida embarcando nas águas igual raiz comprida embarcando no rio igual Ytapocu igual Itapocu. Ou: Itá (pedra) mais Pucu igual Pocu (comprida, alta, longa, supondo que se trate da Pedra Itacolumi, situado ao Sul, entre as cidades de Barra Velha e Piçarras) igual pedra alta igual pedra comprida igual Itapucu igual Itapocu. Cristóvão de Mauricea - Nomes Geográficos Aborígenes: "Itapocu - Pedra comprida, penha longa; alteração de Itá-pucu". Está de acordo com a nossa segunda versão. Depositamos, porém, mais fé na primeira: Língua comprida embarcando nas águas. João Mendes de Almeida - Dicionário Geográfico da Província de São Paulo: "Itapocu - Itapocu significa Morro Largo. De Ytá, pedra, morro, Pucu, largo". Não. Ytá (com Y) é armação ou tear, Itá (com I), significa, pedra; morro é Ybytyra e pocu ou pucu quer dizer comprido, alto, longo, mas não largo, como o quer o autor do Dicionário Geográfico da Província de São Paulo. José Alberto Barbosa - "Considerações sobre Guaramirim" (in Correio do Povo - Jaraguá do Sul - Edição 3.302, de 31.08.84) - "Eu já alertara, em artigo anterior, no Correio do Povo local, que Theodoro Sampaio lembrara que o vocábulo Itapecum, tupi-guarani, significa Línga de Pedra, o chato (achatado) em forma de língua e então via ai a origem do nome do rio." (Obs.: Patrianova ai cita outro estudo meu (16). Prossegue Patrianova: "O autor de O Tupi na Geografia Nacional tinha um pouco de razão, baseando o topônimo em língua. Uma formada com a Barra Velha e outra com o advento da Barra Nova, duas línguas de terra que formaram as barras do rio Itapocu. Essas duas línguas tem forma de raiz: raiz de mandioca, de aipim ou macaxera. Afastada a ideia de pedra, pela sua incerteza, restam-nos as duas línguas semelhantes a raízes nascendo nas águas ou línguas compridas ou raízes compridas embarcando nas águas igual Y-ta-apó-cu ou Y-ta-a-pó-cu igual Itapocu que deve ser a verdadeira origem do topônimo, uma vez que nas Barras (Velha e Nova) não há pedras dignas de admiração" (tudo, retro, transcrevendo de minúsculas em muitos termos termos que ele grafa maiúsculas). Maravilhosa página de legado cultural para com as comunidades do Vale do Itapocu, o bastante para comprovar-se o quanto é culturalmente lamentável estar ainda inédito o seu "Topônimos Brasileiros - Com Tradução dos de Origem Indígena".

2.13 - Importante observar que quanto a João Mendes de Almeida, citado por Patrianova, aquele deve ter-se preocupado com o topônimo paulista (como sua obra já diz) e já, realmente, Itapocu é um morro. Talvez, já a tradução deva ser Pedra Alta, Pico Alto, ou ainda Pedra ou Pico ou Morro alongado (já que é prolongamento da Serra do Itaqui). Para o caso catarinense é bem diferente. Discordo de Patrianova quando diz que no nosso caso não há como aplicar Itá (pedra) por não haver pedras dignas de admiração. Até que existem. [p. 11]

Do litoral (inclusive de Barra Velha) se avistam diversos morros no Vale do Itapocu, inclusive o nosso Morro da Boa Vista (também apelado Morro do Jaraguá e Pico do Jaraguá). E mesmo na faixa litorânea é interessante que Saint-Hilaire impressionou-se muito com as "montanhas de Itapocoróia" (7), que à distância, se via a cavaleiro das matas e das águas, e as quais, pelo que depreendi de sua leitura, ficam mesmo na área da Armação (de Itapocoróia), logo ao sul de Barra Velha. O que sustento é, todavia, que apesar da boa aplicabilidade do nome Itapucu para um monte local - um monte alto como o nosso Morro da Boa Vista - todavia o nome é dado historicamente a morro algum, mas ao rio e que, portanto, é no rio - e seus acidentes - que devemos buscar a resposta do nome. Nesse sentido as colocações de Patrianova sobre o "itapecum" da foz e o nome do rio são inteiramente lógicos e de todo pertinentes.

H) Maack e o rio Tapuca

2.14 - Recentemente, pesquisando sobre o roteiro de Cabeza de Vaca que por aqui entrou em 1541, fui reler Maack. De fato, o geólogo Reinhard Maack, no seu afamado "Geografia Física do Estado do Paraná" (reeditado em 1968 às vésperas da morte do eminente autor), pesquisando e reconstituindo sobre os roteiros dos que percorreram o lendário caminho indígena do Peabiru (dentre os quais Cabeza de Vaca), registrou que o rio Itapocu, outrora, já foi chamado rio Tapuca. Isto é muito importante, porque explicaria duas coisas: a) que seria por tal razão que os antigos não apelaram o rio Itapucuy (com sufixo "y") significando rio), ou seja, por o "y" de rio seria, no caso, um prefixo, como sucede em Iguaçu. O nome do rio seria, portanto, Y mais tapocu ou Y mais tapucu ou mesmo Y mais tapuca e não Itá mais pocu; b) ficaria afastada a questão do termo "itá", prefixal, significando pedra. Abrir-se-ia então a questão de interpretar o significado do "Tapocu", "Tapucu", "Tapuca".

2.15 - Vi que a fonte de Maack tinha sido mapas antigos do século XVII. No seu livro mesmo, às fls. 37, ele reproduz um, o mapa "Brasilia", de Christoph A B Artíschav Arciszewski, constante do Atlas de Johannes Blaeu, de 1630. Ali, encontrei realmente o rio Tapuca. Também achei o rio Tapuca no "Acuratissima Brasilia Tabula" de Johannes Janssonius, holandês, de 1646. E no "Novus Brasiliae Typus". Não é de somenos que tanto se festeja a obra de Macck (15). Consultei Patrianova a respeito. Na opinião dele os holandeses (que publicaram tais mapas) praticaram corruptela do nome Itapocu para Tapuca ou Tapoca. Pode ser. Como também pode ser que estejam eles no certo. É de ver-se que um cartógrafo antigo, diante da necessidade de escrever "rio num mapa, diante de um nome, agiria até com grande consciência profissional, suprimindo do nome um prefixo ou sufixo que já por si significasse rio. Assim, por exemplo, essa falta de cautela fez com que, mesmo aqui no Vale do Itapocu, o nosso pequeno rio do Peixe, ao invés de ser chamado rio Pirá, conservou o "y" de rio e agora é apelado em redundância, rio Piray. O mesmo se deu com o Piraí planaltino. Está se pois diante de caso sem solução aparente.

2.14 - Consideramos, portanto, apenas como hipótese que os mapas holandeses fossem corretos no sentido de que considerar que o "y" prefixal significasse por si, rio, e o suprimisse. Vamos pesquisar, portanto, a partir do nome Tapuca por eles grafado.

Tapuca ou Tapoca, em tupi-guarani, significa "pedra rachada, pedra fendida", como lembra Patrianova por carta de 12.02.89. Realmente, seria ai uma afêrese do "i" no vocábulo "itapoca". A origem do nome do rio numa pedra rompida é teoria minha que mais adianta exponho. A observação de Patrianova reforça, pois meu pensamento aliás já antes manifesto em artigo (10). Há casos (muitos) no tupi, de aglutinação de vocábulos, mas não é caso, creio, de uma aglutinação de "y" mais "Ytapucu". Nossos índios jogavam o "y" (rio) como sufixo, na expressão, quando o nome por si já iniciava com "y" ou "i". Itapoca (o mesmo que Itaboca, Itapuca) tem ampla aplicação a pedra lascada, a pedra furada, a pedra rachada, o penedo solapado, a lapa, a caverna. Uma pedra lascada, em Niterói (...)


F) O mistério do rio dos Dragos

2.15 - O viajor Aires de Casal, na sua "Corografia Brasílica" (8), tratando de um rio constante de antigos mapas, na costa catarinense, achou que se tratava, no caso, no nosso rio Itapocu, dizendo "parece ser o Rio dos Dragos que os primeiros descobridores puseram ao sul do São Francisco" (opus cit.). Realmente os mapas antigos mostraram aqui um rio dos Dragos e a localização tudo faz crer fosse nome paralelo dado ao Itapocu. É assim que surge por exemplo no mapa mundi de Bartholomeu Velho (1561). Idem no mapa holandês de Guilherme Jansenius Blaeu (mapa-mundi de 1640). Idem no antigo mapa "Brasilia et Peruvvia", onde se vê na ordem o rio dos Dragos logo após o rio São Francisco, na Babitonga. Esses mapas evidenciam que não é, por exemplo a Barra de Araquari, mas logo ao sul. Deve ser mesmo um nome dado ao Itapocu.

2.16 - Donde proveio tal denominação?

O termo drado significa dragão. Pensei então na possibilidade de serem apelados assim os jacarés e os grandes lagartos. Mas também Dragão (e em latim Draco) é o nome de uma constelação boreal, nome dado por Ptolomeu. É muito natural que a presença dessa constelação nos céus, servisse como motivo toponímico para os navegadores. Em carta de Américo Vespucci, de julho de 1500, destinada a Lorenzo Medici [p. 12]

A) Origem no rompimento da barreira arenosa

3.2 - É fato conhecido sobejamente que o Itapocu, na sua ansiedade de ingressar no mar, rompeu a formação rochosa de areia compactada que lhe barrava o caminho e obrigava suas águas a infletir para o sul onde então tinha barra (a Barra Velha como foi nominada) ou para o norte (lagoa da Cruz). Esse rompimento do areão é sem dúvida o fato geográfico mais importante do rio Itapocu e não poderia passar despercebido nem pelos primitivos habitantes do litoral - os indígenas - e nem pelos primeiros navegadores e aventureiros brancos que por ali perlustraram.

Que habitavam ali, na região da foz em tempos primevos, índios para testemunhar e admirar o sucedido, não há dúvida alguma. Prova-o a Arqueologia. realmente, num estudo sobre Guaramirim, de minha autoria, publicado pelo jornal "Correio do Povo" (16) já alertei para o fato de que a presença humana no Vale do Itapocu, representada por populações indígenas, é muito antiga. E citei o informe do Prof. Walter F. Piazza, "Dados à arqueologia do litoral norte e do planalto de Canoinhas", onde ele refere a existência de dois sítios arqueológicos pesquisados na área, similares à Fase Ibirama, qual seja a nossa Fase Pirai, de tradição não-tupiguarani mas com a presença intrusiva de cerâmica tupi-guarani, sítio esse à margem do rio Piraí e datação de cerca do ano 1000 da Era Cristã (quinhentos anos antes da descoberta do Brasil) e ainda outro sítio, dessa vez à margem do Itapocu, já de tradição tupi-guarani e datado de cerca de 1500 da Era Cristã, contemporâneo da descoberta do País. [p. 13]

Ainda outra construção: "Ytá" (pedra rocha) mais "poca" (fender, rachar: fendida, rachada; estrondo, barulho) mais "ro" (ruir, cair, de "roara") mais "y" (rio, água), portanto, rio que faz ruir a rocha, fendida, rio que faz ruir rachando a pedra.

Pode haver correlacionamento com "Itapicuru". Deve provir de "Itapecuru", no qual "itape" é forma apócope de "itapeba" (pedra plana, pedra chata).

D) Relacionamento com velhos caminhos

3.14 - Outra fonte de indagações nada desprezível é o fato de o rio Itapocu ser, no passado, desde os tempos pré-colombianos, um velho caminho que, do mar, demandava ao afamado caminho índio do Peabiru, que ligava o Paraguai à região que depois seria a Capitania de São Vicente (São Paulo).Muito já se escreveu sobre o Peabiru. Dele diz, por exemplo, Romário Martins (1874-1948):

"Chamavam os nativos Peabiru a um caminho pré-colombiano que se estendia por mais de 200 léguas, da costa de São Vicente ao rio Paraná, atravessando os rios Tibagi, Ivaí e Piquiri, por onde os povos nativos se comunicavam com o mar e com as regiões mais distantes do ocidente. Ao poente do Paraná o caminho prosseguia, atingindo o Perú e a costa do Pacífico."

Em seguida, arrola numerosas pessoas e expedições que se utilizaram do caminho do Peabiru, indo por ele em várias direções: Cabeza de Vaca e comitiva (1541); Joahnn Ferdinando, de Assunção para Santa Catarina (1549); os campanheiros de Hans Staden em toda para Assunção (1551); Ulrich Schmidel (em 1553) do Paraguai para São Vicente; o Pe. Leonardo Nunes; os irmãos Pedro Correia e João de Souza, Mártires pacificadores dos carijós; Juan de Salazar Espinosa, Cipirano de Góés e Ruy Diaz Melgarejo (1556) com algumas senhoras e soldados; Diogo Nunes viajando para Paraguai e Peru; Braz Cubas e Luiz Martins (1562).

E diz: "tudo isso antes, e depois de haver Tomé de Souza em 1552, mandado obstruir o caminho que da costa de Santa Catarina ia ter ao rio da Prata (Assunção) e que era um dos ramos da linha tronco de Peabirú". Esse roteiro fechado inutilmente por Tomé de Souza é o da subida ao planalto a partir do Itapocu. Antigo caminho nativo.

A seguir pretendo comprovar como a partir da idéia do rio Itapocu como um velho caminho, ramal desse antigo Peabiru, iremos a construções que levam ao nome Itapecu, um dos nomes pelo qual se apelou o Itapocu.

3.15 - O Pe. Antonio Guasch, no seu Dicionário Castellano - Guarani y Guarani - Castellano, apresenta a expressão "Tapekue", significando caminho velho, intransitável. De "tape" (caminho) e "kue" (que é sufixo designativo de passado). "Tapekue", literalmente, o que foi caminho, "kue" é o mesmo que "kué", "kuera" (ou "cuera"), "uera" e "puera". E sufixo de passado e, assim, na formação dos vocábulos, dá ideia de coisa antiga, coisa passada: "tibicuera" igual a ossos velhos e, portanto, cemitérios.

Coloquemos então, como prefixo o termo "Y" (rio, água) e temos "Ytapekue" (com posterior apócope para "Ytapeku"), significando rio que foi caminho antigamente, rio que é caminho antigo. Ou seja, bem a ideia que há de dar um rio que é passagem antiga e transitada de um importante ramal do antigo caminho do Peabiru.

Interpretação perfeitamente adaptada à realidade pré-colombiana e pós-cabralina do Itapocu como roteiro das andanças de índios e, depois, de brancos.

3.16 - Uma outra ideia que me veio é a de que "tape", no caso designativo dos caminhos humanos, é formado de "(t) apé", caminho, mas em que "t" é prefixo indicativo de que o termo se emprega para gente; "tapé" (igual "tape") é pois, caminho de gente, literalmente. Por oposição a "(s) apé", "sapé", que será caminho de bicho (o que não precisa se aplicar à grama sapé de cobertura, de moradas, que pode provir de outras construções, como "ecá" mais "pé" como sugere do rio, Silveira Bueno). [Página 15]

Assim, Itapekue, seria rio que é antigo caminho de gente. Ou seja, um reforço à ideia do seu curso como roteiro de penetração mar - planalto e vice-versa. Haveria posterior apócope para Itapeku (que é o mesmo que Itapecu e, portanto, pronúncia ainda testemunhada por Aubé, van Lede e Avé-Lallemant - v. II, C). Se acrescermos "róy" (frio, fresco), poderemos ter algo como rio que é caminho antigo (para lugar) frio, portanto, "itapekuróy", que originaria Itapocoróia. A construção é falha. É pena, porque o Itapocu era, realmente, um velho caminho para as terras altas (Serra do Mar e Planalto Catarinense) onde reina o frio. Rio que é caminho para o frio? Talvez.

3.17 - Se o próprio rio em sí não se chamasse Itapocu (ou termo assemelhado) poderíamos crer na possibilidade de que o nome Itapocu na verdade resultasse de uma resposta dada pelos índios á comitiva de Cabeza de Vaca (1541) quando esta lhes indagou sobre qual o melhor caminho para varar o hinterland. Poderiam então ter respondido "Ytapecu", isto é, passem pelo caminho do rio ("y" igual rio; "tape", "tapé" igual caminho; "cu(aba)" igual passar). Ou ainda teriam dito "Ytapeco", ou seja, eis aqui o caminho do rio ou eis aqui o rio que é caminho, pois "co" (igual "ko", "ké") é este, aqui, eis aqui. Será? Não é proibido pensar.

Ainda relacionado com o velho e longo caminho do Peabiru, abro mais uma hipótese: a de que o nome Itapocu envoque justamente a idéia dessa imensa distância que se percorria entrando-se pelo Itapocu rumo aos altiplanos ou de lá provindo para as terras litorâneas. Exemplo: "Y" (rio, água) mais "tape" (caminho) mais "pucu" (longo, comprido), portanto, "Ytapepucu" (com sin cope que produziria "Ytapecu") e significando algo como: rio que é parte do caminho comprido ou rio do caminho comprido, rio que vai ao caminho comprido, alusão ao longo Peabiru.

Enfim um no mínimo romântico enlace de nosso rio com os tempos lendários pré-colombianos, em que, segundo a lenda, o mítico Sumé abriu o caminho do Peabiru, pregando nele a paz, ensinando a agricultura aos índios e profetizando a futura vinda dos brancos e dos missionários e até a futura ruína dos índios ante os brancos. Terá Sumé estado por aqui?


IV) Conclusões:

4.1 - Findo o presente estudo (que naturalmente, não termina aqui, pois o retro posto é mero trampolim para novas pesquisas), impõe-se que apresente algumas conclusões. Arrolo-as como segue:

A - Não está de modo algum pacificado qual seja o significado exato do nome Itapocu, na sua origem.

B - Não está de modo algum pacificado qual tenha sido o nome primitivo e sua expressão fonética correta, tanto podendo ser Itapocu, Itapucu, Itapecu ou ainda outra forma. Mostra-se como pacífica a origem tupi-guarani.

C - A incerteza provém, principalmente da multiplicidade das possibilidades lógicas, antes que das obscuridades;

D - Ao autor a expressão que mais parece ser correta é justamente o termo Itapocu e sua origem correlacionada com o rompimento da barreira natural, na foz. Mas diversas construções linguísticas cabem, formando o nome Itapocu, com elementos variantes e com significados portanto cambiando. 2/4/1989 [p. 16]

01/01/1000 - *Diáspora carijó / Migração tumpinambá

01/07/1500 - \\windows-pd-0001.fs.locaweb.com.br\WNFS-0002\brasilbook3\Dados\lucia\anos\1989total.txt

29/03/1541 - Cabeza de Vaca desembarca em Santa Catarina

29/11/1541 - Cabeza de Vaca parte da foz do Itapocú

01/01/1549 - *Johan Ferdinand (João Fernando) vai se Buenos Aires a Santa Catarina pelo Peabiru

01/01/1552 - \\windows-pd-0001.fs.locaweb.com.br\WNFS-0002\brasilbook3\Dados\lucia\anos\1989total.txt

26/12/1552 - Maniçoba / Ulrico Schrnidel partiu de Buenos Aires, que veio do Paraguai a São Vicente, passando por Santo André, a vila de João Ramalho

01/06/1553 - Tomé de Souza escreve ao Rei D. João III: “nomeei João Ramalho para vigiar e impedir o trânsito de espanhóis e portugueses entre Santos e Assunção e vice-versa; e assegurar a soberania portuguesa no campo de Piratininga e sobre os caminhos de penetração que dali partiam”

13/06/1553 - Ulrico Schmidel chegou a São Vicente

30/06/1553 - Tomé de Souza proibiu o tráfego nas rotas que ligavam Cananéia e São Vicente ao interior paraguaio, tentando transformar a vila de Santo André da Borda do Campo em posto avançado e fronteiriço do avanço português

01/06/1560 - Partida da expedição de Bras Cubas e o mineiro da Rainha, Luiz Martins. Indo até o municipio de Apiahy ou Paranapanema*

01/01/1561 - *Mapa de Bartholomeu Velho

01/01/1593 - *G. & C. De Jode: Brasilia et Peruvia

01/01/1630 - \\windows-pd-0001.fs.locaweb.com.br\WNFS-0002\brasilbook3\Dados\lucia\anos\1989total.txt

01/01/1635 - *“Novus Brasiliae Typus”, Jodocus Hondius

01/01/1640 - *Mapa “Americae nova Tabula”, de Willem & Jan Blaeu

01/01/1646 - \\windows-pd-0001.fs.locaweb.com.br\WNFS-0002\brasilbook3\Dados\lucia\anos\1989total.txt

01/01/1901 - *“O Tupi na Geographia Nacional”. Teodoro Fernandes Sampaio (1855-1937)

01/01/1976 - \\windows-pd-0001.fs.locaweb.com.br\WNFS-0002\brasilbook3\Dados\lucia\anos\1989total.txt


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