'Carta: Ir. José de Anchieta ao Padre Inácio de Loyola, São Paulo de Piratininga 0 01/09/1554 Wildcard SSL Certificates
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   1 de setembro de 1554, quarta-feira
Carta: Ir. José de Anchieta ao Padre Inácio de Loyola, São Paulo de Piratininga
      Atualizado em 25/02/2025 04:45:41

•  Fontes (3)
  
  
  


6º) Carta: Ir. José de Anchieta ao Padre Inácio de Loyola, São Paulo de Piratininga, 1/9/1554.

(sic) De facto, alguns cristãos filhos de pai português e mãe brasílica, que estão apartados de nós 9 milhas numa povoação de portugueses, não cessam nunca de esforçar-se juntamente com o pai por lançar a terra a obra que procuramos edificar com a ajuda de Deus pois exortam repetida e criminosamente os catecúmenos a apartarem-se de nós e a crerem neles, que usam arco e frechas como os índios, e a não fiarem em nós que fomos enviados aqui por causa de nossa maldade.

Com esses e semelhantes coisas conseguem que uns não creiam na pregação da palavra de Deus e que outra que parecia já termos encerados no redil de Cristo voltem aos antigos costumes e se apartem de nós para viverem mais livremente. Os nossos irmãos tinham gasto quase um ano e meio a doutrinar uns, que distam de nós 90 milhas e eles, renunciando aos costumes gentílicos, tinham resolvido seguir os nossos e tinham-nos prometido nem matar nunca os inimigos nem comer carne humana. Agora porém convencidos por estes cristãos e levados pelo exemplo de uma nefanda e abominável depravação, preparam-se não só para os matar mas também para comer.

Da guerra a que me referi acima, tendo um destes cristãos trazido um cativo, entregou-o a um irmão dele para o matar. E matou-o de fato com muita crueldade, tingindo as próprias pernas de vermelho e tomando o nome de quem matara em sinal de honra, como é costume entre os gentios; e, se o não comeu, deu-o ao menos a comer aos índios, exortando-os a que não deixassem perder a quem ele matara, mas o assassem e levassem para comer.

Outro irmão do mesmo, advertindo-se de que tivesse cuidado com a Santa Inquisição, por seguir costumes gentílicos, respondeu que vararia com flechas duas inquisições. E são cristãos, nascidos de pai cristão, que sendo espinho não pode produzir rosas.

Este passou quase 50 anos nesta região, junto com uma concubina brasílica, e gerou muitos filhos: a salvá-los dedicaram os irmãos de nossa Companhia todos os cuidados e canseiras....

Notando, porém que nenhum fruto se obtinha dele, mas que ao contrário continuavam o maior escândalo, tanto o pai como os filhos que estão unidos com duas irmãs e duas filhas, do mesmo pai começaram os Irmãos a exercer sobre eles algum rigor e violência, sobretudo separando-os da comunhão da Igreja.

Mas eles, que deveriam ter mudado com esta medida, estão a tal ponto depravados, que nos têm o maior ódio e procuram prejudicar-nos de todos os modos, ameaçando-nos até de morte e esforçando-se para inutilizar a doutrina em que educamos e instruímos os índios por concitar ódio deles contra nós.

E assim, se não se extinguir completamente esta peste tão perniciosa, não só não se poderá seguir na conversão dos infiéis, mas terá de debilitar-se e diminuir cada vez mais. [genealogiahistoria.com.br, 05.2018]



 Fontes (3)

 1° fonte/1933   

Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões do Padre José de Anchieta (1554-1594)
Data: 1933

Quadrimestre de Maio a Setembro de 1554, de Piratininga:

Além destes ha outra casta de nativos grandemente disseminada por toda a parte (á qual chamam Carijó), em nada diferente destes no alimento, no modo de viver e na língua, todavia muito mais mansos e mais prósperos á coisas divinas, o que claramente conhecemos pela conversação de alguns que conhecemos aqui entre nós, bastante firmes e constantes. Estes estão sob a jurisdição dos Castelhanos, cujas casas fazem de boa mente, comprando-lhes o necessário para o uso da vida e com quem vivem em amigável disposição.

A estes seguem inumeráveis gerações para o ocidente pelo sertão, até a província do Perú, que um nosso Irmão percorreu; as quais são na verdade muito mandas e facilmente se chegam á razão; são todas sujeitas a um principal, vive cada um separadamente em sua casa com mulher e filhos, não se alimentam por maneira alguma de carne humana, e aos quais, se se anunciar a palavra de Deus, não é duvidoso que mais se aproveitará em um mês com eles, do que com estes em um ano.

E também ha, vizinho desta, outra infinita multidão de nações (que propriamente se dizem "escravos"), pelas quais se vai até o Amazonas, e cremos que vivem em outra parte do mar da Etiópia.

Mandou-se agora o Irmão Pero Corrêa com dois outros, Irmãos (41) a umas povoações de nativos, que estão situadas perto do mar, a pregar entre eles a palavra de Deus, e maxime se se puder, a manifestá-la em certos povos, a que apelidam Ibirajáras, os quais cremos que se avantajam a todos estes, não só no uso da razão, como na inteligência e na brandura de costumes. Obedecem todos estes a um único senhor, tem grande horror á carne humana, vivem satisfeitos com uma só mulher, e resguardam cuidadosamente as filhas virgens (o que outros n ão curam) e a ninguém, senão ao próprio marido, as entregam. Se a mulher cai em adultério, o marido mata-a; se porém ésta, evadindo-se das mãos do marido, foge para a casa do principal, é recebida benignamente e conservada por este, até que se abrande a cólera do marido e ele se aplaque. Se alguém faz sua, por furto, a coisa alheia, é levado á presença do principal, e este ordena que seja açoitado pelo algoz. Não creem em idolatria alguma ou feiticeiro, e levam vantagem a muitíssimos outros em bons costumes, de sorte que parecem aproximar-se da lei mais conforme á natureza. [Cartas,informações, fragmentos históricos e sermões do Padre José de Anchieta (1554-1594), 1933. Páginas 47 e 48]

Acresce também a isso que, como todas as orações e gemidos dos nosso Irmãos, depois que aqui estão, se afadigam pedindo contínua e fervorosamente a Deus Otimo e Maximo que enfim se digne algumas vezes mostrar e descobrir algum caminho em que para aqui se dirijam os gentios a receberem a sua fé, agora finalmente se descobriu uma grande cópia de ouro, prata, ferro, e outros metais, até aqui inteiramente desconhecida (como afirmam todos), a qual julgamos ótima e facílima razão, de que já por experiência estamos instruídos. Porquanto, muitos dos Cristãos, que aqui têm vindo, a fazer por força o que não se resolveriam a fazer por amor. Resta que, Reverendo Padre, nos encomendemos humildemente á tua terra e ás orações de todos os nossos Irmãos. Piratininga, na Casa de São Paulo, 1554. O mínimo da Sociedade de Jesus. [Cartas,informações, fragmentos históricos e sermões do Padre José de Anchieta (1554-1594), 1933. Página 49]


 2° fonte/2004   

“A cidade da conversão: a catequese jesuítica e a fundação de São Paulo de Piratininga”, Amilcar Torrão Filho, doutorando na Unicamp
Data: 2004

Antes de Vieira, outros jesuítas já haviam chamado a atenção para a dificuldade de evangelização dos índios, não apenas por sua resistência à doutrina, mas pela ação desagregadora dos colonos brancos. Estes interferiam no trabalho dos jesuítas de várias maneiras: pelos maus exemplos e pelos pecados, não raro de muito maior escândalo do que dos índios pagãos, por incentivar as guerras e a antropofagia, pelo adultério e mancebia, blasfêmias e, sobretudo, pelo seu desejo de escravizar a maior parte desses nativos em proveito próprio, de suas fazendas, em detrimento do Império de Cristo na Terra, do qual eram mandatários os portugueses.

Anchieta, em carta a Inácio de Loiola de 1o de setembro de 1554, queixa-se da má influência dos brancos sobre os catecúmenos. Relata que um dos principais da terra, vivendo distante mais de trezentas milhas de Piratininga, chegara com o irmão Pero Correia para receber os preceitos da lei divina e a doutrina da fé cristã. Tendo ido um dia a Santo André, a mítica povoação de João Ramalho, foi convidado por um cristão a beber, mas negou-se, dizendo estar determinado a abandonar os antigos costumes, e que beber lhe estava proibido pelos inacianos. Apesar da recusa, o índio não teve forças para vencer as insistências do cristão, que teria afirmado:

“Não tenhas medo, que eles não virão a saber”. Vencido, deu-se à bebida e, por causa dela, “caiu em gravíssima doença, a que se seguiu a morte. Faleceu, porém, confessado e contrito, depois de recebido o baptismo” [Serafim Leite, Cartas dos Primeiros Jesuítas do Brasil, São Paulo, Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1957, v. II (1553-1558), p. 107.]. Esses cristãos mostravam-se, disse o mesmo Anchieta, ainda piores que os pagãos. Eram os irmãos da Companhia, por causa deles, “humas mortes vivas, ou humas vidas mortas”.

A CIDADE DA CONVERSÃO

Pela historiografia e pelas cartas jesuíticas vemos que eram freqüentes as queixas dos inacianos contra os colonos europeus, os mamelucos e mesmo os religiosos enviados à América. Uma das tópicas mais importantes dessas cartas é justamente “a sã natureza da terra e a corrupção em que se acham os cristãos”, principalmente os clérigos de outras ordens, “em que tudo, sem exceção, parece contrário à religião e à eficácia da pregação” (19).

Mas como entender esse desejo de afastamento e a fixação em Piratininga, tão próximos de João Ramalho, segundo os padres da Companhia, seu inimigo declarado? As facilidades de conversão nos campos de Piratininga não eram tão grandes quanto se pensava ou se dizia e cedo os jesuítas percebem que a catequese não se poderia efetivar apenas pelo amor, mas sobretudo pelo temor. Anchieta afirma a Loiola, em setembro de 1554, que esses índios não estavam sujeitos a nenhum rei ou chefe e só tinham em alguma estima “aqueles que fizeram algum feito digno de homem forte”.

Quando pareciam ganhos, voltavam a seus velhos hábitos “porque não há quem os obrigue pela força a obedecer”, já que cada um “é um rei em sua casa e vive como quer”. Por isso nenhum fruto se pode colher deles “se não se juntar a força do braço secular, que os dome e sujeite ao jugo da obediência” (20).

Anchieta afirma que a abundância de ouro, prata, ferro e outros metais, antes desconhecidos, seria ótimo e facílimo meio pelo qual se chegaria ao caminho “pelo qual esses gentios se haviam de levar à fé”. Isso se daria pois, “vindo para aqui muitos cristãos sujeitarão os gentios ao jugo de Cristo, e assim estes serão obrigados a fazer, por força, aquilo que não é possível levá-los por amor” (21). Nem todos os jesuítas se opunham ao cativeiro dos índios, como era o caso de Nóbrega e de Anchieta. Apesar da defesa de Nóbrega da liberdade da maioria dos índios, “a escravidão indígena devia ser permitida e mesmo desejada em determinados casos, não apenas para efeitos de defesa ou de castigo, mas também porque a oferta de legítimos cativos atrairia novos colonos para o Novo Mundo” (22).


 3° fonte/2006   

Arqueologia de uma Fábrica de Ferro: Morro de Araçoiaba Séculos XVI-XVII. Autora: Anicleide Zequini, Universidade de São Paulo, Museu de Arqueologia e Etnologia, PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA*
Data: 2006



[26938] Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões do Padre José de Anchieta (1554-1594)
01/01/1933

[28133] “A cidade da conversão: a catequese jesuítica e a fundação de São Paulo de Piratininga”, Amilcar Torrão Filho, doutorando na Unicamp
01/01/2004

[27720] Arqueologia de uma Fábrica de Ferro: Morro de Araçoiaba Séculos XVI-XVII. Autora: Anicleide Zequini, Universidade de São Paulo, Museu de Arqueologia e Etnologia, PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA*
01/12/2006


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