Revista trimensal do Instituto Histórico, Geográphico e Etnográphico Brasileiro, tomo XXVI
1863 Atualizado em 25/02/2025 04:46:59
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(19) O rio Paraná-pané, cujo nome significa é estéril de peixe, se bem que possante em águas não produz criatura vivente, até que misturando suas águas com as do Pirapó com elas se enriquece de peixes. Nasce este rio, nas remotas campinas de Caayù sobre as eminentes cordilheiras do Brasil, povoadas antes de inumeráveis nativos, mas hoje desertas pelas caçadas dos portugueses. Elevadas e frondosas árvores que parecem querer subir ás nuvens coroam seus vales. Neles encontram plantas aromáticas, madeiras incorruptíveis, cedros, louros, paus amarelos, pau-brasil, e outras mui olorosas e medicinais com varas virtudes, de agradável diversidade e de vivas e variadas cores. Povoaram suas vistosas margens vinte e cinco grandes povoações que bebiam de suas águas; mas existiam muitas outras famílias em crescidíssmo número que viviam sem governo e sem domicilio fixo. Estes nativos plantavam, deitando fogo no terreno e faziam duas colheitas uma no outono, e outra na primavera, porém eram mui preguiçosas para o trabalho, e portanto apesar da fertilidade do solo como pouco trabalhavam, pouco colhiam e continuavam sempre miseráveis. Só sacudiam sua preguiça em ocasiões de guerra que tinham a miúdo com os Tupys do Brasil. Uns e outros comiam seus prisioneiros em festins. Estes nativos tinham notícia bem que confusa do que há um Deus criador do universo, que todo o gênero humano teve princípio em Adão e Eva; que tudo pereceu pelo dilúvio, salvando-se Noé e sua família na arca. Diziam que Pay Zumé (Apóstolo São Thomé) tinha ensinado esta doutrina a seus maiores; porém nenhum culto tributavam a Deus, nem a outra criatura qualquer. A poligamia simultânea, não é unicamente neles um distintivo de autoridade porque se julgavam mais poderosos, segundo o maior número de concubinas que tinham: mas nesse uso encontravam utilidade, não só para satisfazer seus desejos lascivos, senão também para terem mais copiosa provisão de bebidas que as mulheres preparavam com milho, frutas silvestres e com mel que se encontra copiosamente nos matos, e quanto maior era o número de suas mulheres, maior era quantidade de licores com que saciavam sua paixão desenfreada a embriaguez. [Páginas 252 e 253 do pdf]
A vinda do Apóstolo São Thomé á estas partes da América, e principalmente ao Brasil e ás regiões do Paraguay, está baseada em tais fundamentos, que d´ela não se pode duvidar. Faltam monumentos antigos que testifiquem a vinda de São Thomé, e por tanto a tornem perfeitamente certa, mas é inegável que a tradição constante e uniforme de diversas nações do novo mundo, os sinais e vestígios, e o nome de São Thomé conhecido desde tempo imemorial por elas, fazem probabilíssima sua vinda a estas regiões. Muitos autores, e entre eles o padre Pedro Lozano, traram difusamente deste ponto. Desde que chegaram os jesuítas ás províncias de Guayrá, Paraná-pané e Tibaxiva, ouviram os gentios falar de São Thomé, ao qual davam o nome de pai Zumé, e dele narravam coisas prodigiosas, e o tinham em conta de varão maravilhoso, cuja memória o tempo no decurso de tantos séculos não pode fazer esquecer. Eis o que em 1613 o padre José Cataldino escrevia a este respeito ao provincial padre Diogo de Torres: "Muitas coisas me tinham dito desde o princípio estes nativos, acerca do glorioso apóstolo São Thomé, que eles chamam pay Zumé, e não as tenho escritas antes, para melhor me certificar e averiguar a verdade. Dizem pois os nativos anciãos, e os caciques principais, que tem por certíssimo, por tradição derivada de pais a filhos que o glorioso apóstolo São Thomé veio á suas terras do lado do mar do Brasil, e que atravessando o rio de Tibaxiva (onde eles e seus antepassados moravam) então povoadíssimo de nativos, foi passando por seus campos ao rio Haybay, e que dai foi ao rio Piquirí, donde não sabem aonde foi. Nas cabeceiras deste rio, dizem os nativos, se acham pisadas do glorioso santo impressas em uma penha, e o caminho pelo qual atravessou estes campos está ainda aberto, sem se ter nunca fechado, nem ter crescido nunca a erva, apesar de estar no meio do campo onde não trilham os nativos, e asseguram que as penhas por onde vem este caminho estão abertas, deixando no meio um caminho igual ao mesmo chão, afirmam terem-o eles mesmos vistos." [Páginas 269 e 270 do pdf]
Correndo então já com o nome de Paraná é umas quinze léguas de São Paulo pela margem esquerda rece o rio Tiété (que quer dizer ourina mesmo), o qual nasce em Mogi das Cruzes na província de São Paulo e tem vários galhos. O Tiété recebe em seu curso na margem direita o Jundiahy (jundiá peixe), o Capivary, o Piracicaba (tem pena do peixe), o Jacaré Pipira, o Pipira (se abre a força), e pela margem esquerda o rio Sorocaba, (Maribondo roto), que tem vários galhos nasce da serra Paranabiacaba (pé de maribondo) e rega a cidade de Sorocaba, antes da sua junção com o Tiété, que banha as cidades de São Paulo, Itú, Porto Feliz, etc. O Tiété que é também conhecido pelos nomes de Ypané ou Anhembi, na sua barra com o Paraná tem um salto que impede a navegação. [Páginas 746 e 747]
Descrição das referidas bacias e seus territórios, extraída de um livro que foi escrito no ano de 1612, onde se vê o que eram as províncias do Rio-Grande do Sul, de Santa Catarina, de Mato Grosso etc., em aqueles tempos. [Página 772 do pdf]
Esta costa do Rio da Prata e do Cabo de Santa Maria para o Norte é rasa e desabrigada até a ilha de Santa Catarina com dois ou três portos para navios pequenos. O primeiro é junto aos Castilhos. O segundo é Rio Grande que dista sessenta léguas do Rio da Prata. Sua entrada oferece dificuldades por causa da grande correnteza com que este rio entra no mar; mas tendo-se entrado nele é seguro e grande e se estende como um lago; sua entrada principal é escondida por uma ilha que a encobre. Em suas margens estão estabelecidos mais de vinte mil nativos guaranis, que em aquela terra chamam Arachúnes, não porque em seus usos, costumes e linguagem se diferenciam dos nativos da nação guarani, senão porque trazem o cabelo alçada, encrespado para cima. É gente corpulenta e bem parecida que tem frequentemente guerra com os charruas do Rio da Prata, e com outros nativos que moram no interior chamados guayanás, se bem que este nome se dá á todos os nativos que não são guaranis e que não tem nome próprio.
O Rio Grande e seu porto se acham a 32°, e correndo a costa para cima há alguns povos de nativos da mesma nação. Todo seu território contém excelentes pastos para gados de toda qualidade, grandes e pequenos. Na falda de uma cordilheira não distante da que vem do Brasil (que naquele tempo consideravam ao Norte de Cananéa) se vêem canas de açúcar e algodoes de que eles (os nativos) se aproveitam. É coisa certa haver naquela terra outo e prata (até agora não se tem encontrado na província do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina ouro e prata que mereça a pena, se fosse certa a notícia os nativos nossos antecessores sabiam á respeito mais do que nós) pelo que hão visto alguns portugueses que têem estado entre estes nativos, e pelo que se tem descoberto de minerais naquelas imediações do lado de São Vicente, onde está estabelecido Dom Francisco de Sousa. [Página 773 do pdf]
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