'BOXER. Charles. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola; 1602-1686 (1973) - 01/01/1973 Wildcard SSL Certificates
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BOXER. Charles. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola; 1602-1686 (1973)
    1973
    Atualizado em 25/07/2025 07:36:08

  
  
  


presente livro. Salvador, o velho, nasceu em Portugal em 1547, no castelo familiai de Pena Boa, perto de Barcelos, na província setentrional de Entre Minho e Douro. Sua primeira estada no Rio de Janeiro, como governador, durou apenas três anos (1568-71); mas retornou ao Rio, no mesmo posto, seis anos depois, mantendo-se nele até 1598. Não permaneceu todo este tempo na cidade, pois chefiou muitas expedições ao interior, umas em busca de índios escravos, outras à procura de minas de ouro, de prata e pedras preciosas, que se dizia existirem nas montanhas cobertas de mata, no sertão. Foi no Rio, por volta de 1575, que nasceu seu filho Martim de Sá, embora pareça andar "envolvido em mistério" o verdadeiro estado civil da mãe, durante essa época. Salvador, o velho, e Martim de Sá são figuras preeminentes numa das obras mais fascinantes da literatura de viagens da era de Elizabeth, The admirable adventures and strange fortunes of Master Anthony Knivet, which went with Master Candish in his second voyage to the South Sea, 1591 4• Anthony Knivet tinha sido criado (ou escravo, como ele próprio se intitulava) deles desde a sua captura pelo jovem Martim de Sá, em 1592, até a sua fuga da família Sá, em Lisboa, algum tempo depois de 1602. O velho Salvador funcionou como governador da capitania de Pernambuco entre 1601 e 1602, no decurso de sua viagem de volta para a Europa. Ele retornou ao Brasil em 1614, a fim de tentar novamente o descobrimento das enganosas minas de ouro e de prata que se supunha existirem no planalto paulista; mas não se sabe, ao certo, quanto tempo gastou nessa empresa infrutífera. Viveu longos anos de velhice respeitável após sua volta para Portugal, onde faleceu em 1631. Martim de Sá acompanhou o pai em algumas de suas viagens de exploração e busca de índios para o cativeiro, antes de, nos últimos anos, chefiar, ele próprio, e às suas expensas, outras muitas, como sabemos por Knivet, que foi seu companheiro cm mais de uma. Martim foi capitão-mor de São Vicente em 1620-2; por duas vezes foi governador do Rio de Janeiro, a primeira de 1602 a 1608, a segunda de 1623 até a sua morte, em 10 de agosto de 1632. Esforçou-se enormemente pelo progresso da cidade, dando provas de ser um administrador enérgico e capaz. Afora 4 Purchas his Pilgrimes, IV, págs. 1.201-42. Com o título de Vária fortuna e estranhos fados de Anthony Knivet, publicou-se no Brasil uma erudita tradu-ção dessas aventuras, de autoria de Guiomar e Francisco de Assis Carvalho Fran-co; nela se contêm valiosos dados biográficos sobre [p. 21]

estima pelos seus opressores; mas os motivos que os levavam a colaborar com os holandeses eram antes de tudo econômicos, e não religiosos ou políticos 2 • Já em 1592 haviam sido feitas sugestões no sentido de que todas as atividades dos holandeses em ,iguas americanas deviam ser organizadas em linhas semelhantes às do que chamamos hoje "trust", "pool" e "cartel". O espírito atuante nessa agitação foi Willem Usselincx, flamengo refugiado de Antuérpia, cuja idéia, no começo, era mais a colonização das áreas devolutas da Amé-rica do Sul, do que propriamente a conquista dos territórios já ocupados pelos espanhóis e portugueses 3• Por motivos que é des-necessário indagar neste momento, os que se achavam interessados no referido esquema desistiram de seus planos de colonização, abraçando a sugerida alternativa de atacar as fontes de que emanava a riqueza que a Espanha e Portugal auferiam de suas colônias no Novo Mundo. O primitivo projeto de organizar uma companhia particular de comércio não pôde ir adiante por causa dos doze anos de trégua (1609-21) na guerra da Holanda com a Espanha; mas, assim que a luta recomeçou, os promotores do novo esquema alcançaram maior êxito. A 23 de junho de 1621 incorporou-se formalmente a Companhia das índias Ocidentais, com um capital de sete milhões de florins, soma esta da qual somente 4. 300. 000 florins tinham sido pagos em fins de l 623, e isso, em grande parte, graças aos investimentos feitos nos últimos meses por franceses e venezianos 4 • Os escritores portugueses e (não tanto) brasileiros tendem a caracterizar essa formidável corporação, que tantos danos infli-giu às colônias ibéricas do Atlântico, como sendo obra de capi-talistas judeus, especialmente dos judeus sefarditas que, expulsos da Península, estavam ansiosos por tirar uma represália de seus antigos conádadãos, súditos do Rei Católico. No presente século

2 Anthony Knivet, que partiu de Pernambuco em 1602 numa frota co-mandada por Salvador Correia de Sá, o velho, com destino a Lisboa, conta que ela era "constituída de quinze navios cargueiros de Hamburgo, sete flibotes de Emden e Hamburgo", fora vinte caravelas portuguesas. Purchas his Pilgri-mes, IV, p. l.224, onde a data foi erroneamente indicada como 1596. Veja-se também Ruiter, Too,·tse, pp. 35-6; Frei Vicente do Salvador, História do Bra-sil, p. 404; W . A. Engelbrecht, Schets der historische betrekkingen Portugal-Nederland, pp. 16-19 (Haia, 1940). 3 Excelente biografia de Usselincx encontra-se em Jameson, Willem Usse-lincx. Founder of tire Dutch and Swedish West-lndia Companies; também, em holandês, em C. Ligtenberg, Willem Usselincx (Utrecht, 1914). 4 G. M. Asher, A Bibliographical Essay, pp. XIV-XIX; Wassenaer, His-torish í’erhael, V, pp. 101-3.[p. 56]

muito embora fosse ela a capital regional. Conta-nos o Padre Montoya que os colonos eram ótimos atiradores e esplêndidos cavaleiros; mas que nunca davam um passo a pé se fosse possível evitá-lo, de maneira que pouca experiência tinham de marchar como peões, quer na estrada, quer no emaranhado cipoal do "inferno verde" do Chaco. Talvez essa tenha sido uma das razões pelas quais Céspedes resolveu utilizar os serviços de Salvador e de seu séquito de portugueses e paulistas, os quais estavam habi-tuados não só a caminhar a pé, como a andar descalços.

O comando da força em questão foi cometido a Salvador Correia de Sá e Benavides por um decreto assinado por Céspedes em Assunção, a 3 de janeiro de 1631 45•

É óbvio que nessa escolha devem ter influído as ligações de família, mas as razões dadas oficialmente para justificar a nomeação de Salvador não são uma simples formalidade. Em seu prolixo documento, Cés-pedes relembra a vitória de Salvador e seus auxiliares índios contra os holandeses, no Espírito Santo, em 1625, exaltando-lhe a experiência como militar e o seu conhecimento dos costumes dos índios do Brasil, onde ele submeteu muitas tribos guerreiras e aldeamentos, "a exemplo de seu pai, Martim de Sá". Desde que os índios Tupi se pareciam muito com os Paiaguá e Guaicuru, a experiência que tinha Salvador da melhor maneira de combater os índios no Brasil deveria ser muito útil no Paraguai. Salvador era, por isso, nomeado comandante supremo, com o título de "mestre de campo general, acima de todos os homens, quer espa-nhóis, quer índios, que tomarem parte na conquista, pacificação e punição dos índios das regiões dos Paiaguá e Guaicuru". Foram-lhe conferidos plenos poderes para tomar medidas puni-tivas contra os índios que se recusassem a atender a uma prévia admoestação feita formalmente, dentro das normas do Requeri-miento, ordenando-lhes que depusessem as armas e se submetes-sem pacificamente à coroa e à Igreja 46• Foi-lhe conferida também plena autoridade para promover (ou rebaixar) qualquer de seus oficiais soldados, todos os colonos sendo avisados de que deviam obedecer implicitamente a todas as suas ordens. 45 Publicado na íntegra por Pedro Souto Maior na "Relação dos manus-critos que interessam ao Brasil nos arquivos de Hespanha", em Revista tri-mensal, LXXXI, págs. 38-9 (1917-18). 46 Para a solene farsa do Requerimiento, cf. o capítulo "The require-ment - a most remarkable document", às páginas 31-36 do Livro de Lewis Hanke, The Spanish Struggle for Justice in lhe Conquest of America (Fila [p. 105]

106 SALVADOR DE SÁ E A LUTA PELO BRASIL E ANGOLA A escolha de um português para um posto de tanta respon-sabilidade como o de suprimir uma rebelião em território espa-nhol fugia decerto de todas as praxes e provavelmente terá in-fluído para diminuir a popularidade de D. Luís de Céspedes. Com efeito, D. Luís tinha por essa época atingido o seu zênite. Os jesuítas e outros levaram queixas contra ele à audiencia de Charcas; e uma delas foi a de que ele havia nomeado vários portugueses para cargos públicos. Os jesuítas foram bem suce-didos em sua ação. D. Luís foi destituído de suas funções e con-denado a pagar uma multa de 4. 000 pesos à coroa. Contudo, permaneceu no Paraguai até morrer (por volta de 1660). Ficou do lado do bispo Cardenas, de Assunção, na célebre pendência com os jesuítas, em 1648; mas, alguns anos mais tarde retratou-se formalmente, retirando as suas palavras e seus atos contra aqueles padres. A viúva de Céspedes voltou para o Rio de Janeiro depois da morte do marido e, ao falecer, legou toda a sua fortuna e suas propriedades territoriais aos monges beneditinos, em cuja igreja seu túmulo pode ser visto ainda hoje 47•

Quaisquer que tenham sido os motivos que inspiraram D. Luís na escolha de Salvador como comandante, os seus resultados deveriam justificá-la. Mais ainda, ele sabia que a mãe de Salvador era espanhola e que ele tinha parentes ocupando postos impor-tantes em Buenos Aires. Finalmente, o próprio Salvador, desde 1627, possuía o título de Almirante da costa meridional do Rio da Prata, título que implica uma ligação oficial com o território colonial espanhol, muito embora o referido posto fosse apenas honorário, já que ele não tinha sob seu mando nem navios, nem marinheiros 48•

A força de duros combates conseguiu Salvador esmagar - pelo menos temporariamente - a rebelião dos índios do alto Paraguai e do centro; porém, mal concluída essa tarefa, foi convocado para ajudar a sufocar um levante, muito mais sério dos índios Calchaqui, a várias centenas de milhas de dis-tância, na província de Tucumán, do outro lado do Chaco 49•

47 Taunay, História das Bandeiras, II, págs. 153-79.

48 O título em questão, como se lê em documentos por ele próprio assi· nados, reserva: "Almirante da costa do Sul e Rio da Prata, superintendente em todas as matérias de guerra da dita costa".

49 A descrição de um índio Calchaqui típico, dada a seguir, foi tirada da que fizeram os padres Romero e Monroy, de Santiago dei Estero (a 23 de junho de 1601), conforme o resumo que dela nos dá Nichols, em "Colonial Tucumán", publ. na Hisp.-Amer. Hist. Rev., XVIII, pág. 470. Calchaqui é outro nome que se dá aos índios Diaguita, descritos no mesmo lugar. Cf. tam-bém Pastells, Historia, I, pág. 188, nota ao texto original em espanhol. [p. 106]

A tribo dos Calchaqui, que vivia nos vales das montanhas, a oeste de San Miguel de Tucumán, tinha um ar arrogante e aspecto repulsivo. Os homens usavam cabelos compridos e soltos, com penas de cores vivas presas numa faixa de lã, em torno da cabeça. A testa era tingida de preto até aos olhos, ao passo que o restante da cara era pintado "de mil cores". À altura das sobran-celhas pendiam duas faixas escarlates de lã, que desciam até à cintura. Os braços eram nus, abstração feita de alguns anéis de lã cor-de-rosa vivo. Nos pés usavam sandálias. Homens e mulheres vestiam uma camisa que lhes descia até aos tornozelos e era arregaçada quando iam à guerra ou em viagem. O guerreiro cal-chaqui nunca deixava de ter consigo o arco e a aljava, em que se continham, via de regra, mais de cinqüenta setas. Mais inte-ligentes e corajosos do que os outros índios de Tucumán, fun-davam povoações que viviam da agricultura e da irrigação, pres-tando obediência a um chefe local. Eram peritos em tecelagem e no uso dos corantes vegetais. Confeccionavam cestas e decora-vam artigos de cerâmica, além de trabalhar em ouro, prata, cobre e bronze. Não se sabe o número deles (em 1630); mas se dizia que dois anos antes havia somente sete mil índios pagando tri-buto (encomienda). Em todo Tucumán, eles não podiam ser muito numerosos. Não é necessário procurar muito longe a origem da rebelião. Em 1621, testemunhas oculares trouxeram ao conhecimento, em seus relatórios, que os encomenderos tratavam os seus índios como se fossem "escravos das galés" e com mais dureza do que a supor-tada "pelos judeus no Egito". Menos sedentários e mais decididos do que os índios de todas as outras tribos, os Calchaqui se amo-tinaram em 1630, revoltados contra os seus opressores. Modernos historiadores argentinos admitem que a sua luta para conquistar a liberdade era tão justificada quanto a dos seguidores de San Martin em começos do século dezenove, e a maioria das pessoas que se achavam fora da América do Sul deve sentir que eles tinham boa dose de razão 5o. Filipe de Albornoz, governador de Tucumán, encabeçou uma expedição aos vales daqueles índios, retirando-se depois de ter fundado o forte de Nossa Senhora de Guadalupe, em princípios de 1631. Pouco tempo depois os índios do lugar surpreenderam 50 l\I. Lizondo Borda, em Historia de la nación argentina, III, págs. 395-9; Pastells, Historia, I, pág. 325; R. Levillier, org., Papeles eclesiásticos dei [p. 107]

o governador ali em exercício, Duarte Correia Vasqueanes, tinha com ele parentesco 68• Embora inicialmente tivesse recebido ordens para partir do Rio com o comboio no mês de março, Salvador, que só chegara ali em abril, não pôde deixar a Bahia antes de julho. Um dos assuntos a que teve de prestar atenção durante a sua permanência de três meses no Rio foi a organização das minas de São Paulo, das quais fora nomeado administrador por Filipe IV, nomeação esta confirmada em 1643 por D. João IV, a despeito da violenta oposição dos paulistas, assim em palavras como em atos. O regi-mento e as instruções que devia seguir como governador das minas foram-lhe dadas em junho de 1644, cotribuindo para alar-gar os poderes, aliás já bastante grandes, de qúe dispunha. Incluíam eles uma autorização para que Duarte Correia Vasquea-nes atuasse como deputado seu, nos impedimentos decorrentes das suas viagens como general das frotas do Brasil 69•

Embora não haja razões para supor que ele se viu na con-tingência de tomar qualquer decisão ou medida drástica com re-lação às minas, não será inoportuno dizer algo a respeito da situação em que se achava, nesta época, a procura de metais (e pedras) preciosas no sul do Brasil. A espantosa exploração das minas de ouro e de prata no México e no Peru, pelos espanhóis, deveria despertar, naturalmente, grande inveja e emulação entre os portugueses. Sendo inevitavelmente muito vagos os conheci-mentos que se tinham do interior do continente, era corrente supor-se que o Alto Peru e Potosi se achavam muito mais pró-ximos do Brasil do que realmente estavam, As lendas transmiti-das pelos Tupi e as aventuras contadas pelos viajantes europeus que tinham andado por essas paragens concorreram para aviventar a crença na existência de cadeias de montanhas reluzentes de esmeraldas, diamantes e cristais, não falando nas misteriosas mi-nas de ouro e de prata, equivalentes a outro El Dorado 70• 68 Duarte Correia Vasqueanes era meio-irmão de Salvador Correia de Sá, o velho. Faleceu no Rio de Janeiro a 23 de maio de 1650 em idade muito avançada, tendo exercido funções de governador na cidade em seis ocasiões diferentes. 69 Esses relevantes documentos foram trazidos a lume por Silva Lisboa, em Annaes, li, págs. 80-3, 182-90; e na Revista trimensal, vol. LXIX, parte l, págs. ll6-99. 70 Refletem-se tais suposições na narrativa de Knivet, dada à luz por Hakluyt, e em todos os relatos da época concernentes ao Brasil. A má sorte do coronel Fawcett é forte sugestão no sentido de demonstrar que aquelas crenças não se desvaneceram inteiramente nos dias atuais.[p. 204]

Repugnava aos portugueses admitir que não houvesse ne-nhum Potosi no lado da linha de Tordesilhas que lhes pertencia, sendo isso uma das razões pelas quais os paulistas avançaram tanto para oeste. A esperança de descobrir uma contrapartida do cerro de Potosí foi uma das estrelas que inspiraram os paulistas em suas penetrações no interior das terras, embora fosse o cati-veiro dos índios o seu objetivo principal. O epílogo desanimador ou desastroso de muitas dessas expedições não conseguiu arrefecer a difundida crença na existência de uma "serra das esmeraldas" e das minas de prata de Sabarabuçu. Não há muitas pessoas do-tadas do atilado bom senso do governador-geral Diogo de Mene-zes, quando, em 1609, declarou ao rei que aquelas expedições em busca de metais preciosos não passavam de inútil perda de tempo e de energias, uma vez que o açúcar e o pau-brasil eram as ver-dadeiras minas de onde a colônia tirava sua riqueza 71•

Dessa desilusão não deixava de participar a família Correia de Sá, como resultado de sua própria experiência quando em busca de pedras preciosas e metais no interior de São Paulo. Depois das mal sucedidas expedições de Martim de Sá, entre 1608 e 1618, a que se fez referência páginas atrás 72, tanto ele como o filho mostraram-se mais interessados em suas lavouras de cana e no tráfico de escravos, embora não desprezassem inteira-mente o assunto das minas. Encontraram-se na capitania de São Vicente ouro de aluvião e, ao que parece, minério de prata; mas paira ainda incerteza no tocante ao vulto que tiveram essas explo-rações. Não obstante, o produto delas foi suficiente para justificar a criação, em São Paulo, de uma casa-de-fundição, e permitir, de quando em quando, a remessa de quantidades respeitáveis de ouro para Lisboa, sob a forma de quintos. Quantidades muito maiores terão sido clandestinamente obtidas pelos paulistas, pois a existência no século XVII de vários ourives em São Paulo in-dica que ele deve ter sido uma espécie de mercado para esse ouro. Obedecendo a um velho precedente, todas as minas descobertas no território da colônia faziam parte do patrimônio da coroa, sendo este um dos motivos que levavam os seus descobridores a mantê-los em segredo durante o maior tempo possível. Em 1617, 71 Para o dito de Menezes e as tentativas feitas pelos antecessores de Salvador para descobrir minas, cf. Varnhagen, História Geral, II, págs. 144-67; J. Pandiá Calógeras, As minas do Brasil e sua legislação, I (Rio de Janeiro, 1904). 72 Vide págs. 52-3.[p. 205]

Salvador Correia de Sá se dirigiu à Câmara e propôs a criação do primeiro imposto predial no Rio para levantar recursos e pagar os 350 praças da guarnição; seriam dois tostões pelos altos e outros dois pelos baixos das casas da rua Direita, mensalmente. Nas demais ruas, meia pataca e um tostão.

A Câmara convocou reunião, por achar a proposta prejudicial, com os Capitães Luís de Freitas Matoso, sargento-mor Rodrigo Pestana e Matias de Mendonça (pelos nobres); o Dr. Almada; os prelados de São Bento, Carmo e da Companhia de Jesus; e Antônio Fernandes Valongo e Pedro Pinto (pelo povo).

Entregaram uma contraproposta, sugerindo contribuição pessoal voluntária, restabelecimento da liberdade de comércio, taxa de 10$000 por pipa de aguardente, cuja indústria seria permitida, uma taxa sobre o preço da carne verde.

A surpresa foi que o governador aceitou. E nomeou o Capitão Francisco Monteiro Mendes, cristão novo de má reputação que tinha fama de intermediário de seus negócios escusos, para recebedor e administrador dos novos impostos.

Imediatamente, porém, percebeu que a resolução da Câmara que aprovara era uma violação dos privilégios da Companhia e anulou a aprovação, baixando em substituição severo regimento que instituiu um verdadeiro imposto de capitação, os mais ricos pagariam 8$000 e os demais de acordo com suas posses.

Houve profunda indignação entre o povo, pois Manuel Correia Vasqueanes conseguiu a aprovação da Câmara: surgiam os fermentos da revolta. A cidade estava em deplorável situação, o comércio paralisado, as tropas mal pagas, cofres públicos exaustos.

Salvador, como que desinteressado, ainda decidiu dedicar o governo à construção de galeões e às coisas do mar e resolveu construir o maior navio já saído de seu estaleiro na Ilha do Governador: o "Padre Eterno".

Para isso, convocou um mestre em consertos de navios e carpinteiros na Capital da Colônia. Os novos tributos descontentaram o povo, sendo necessário todo o prestígio de Salvador Correia para o manter na obediência. Enquanto isso, tinha que conter a guarnição local, mal paga e mal cuidada.

Assim, como não aceitaram sua taxa domiciliar para o pagamento da guarnição, e a Câmara propusera a contribuição voluntária acrescida de uma taxa sobre a venda de aguardente que ele recusou, acabou por impor a taxa por pessoa, de acordo com a posição social e os recursos de cada indivíduo.

Resolvido o problema da guarnição e estando o "Padre Eterno" em construção, deixou Tomé Correia de Alvarenga na governança e partiu para o sul em outubro. Suas constantes ausências serviram para estimular dissidências e criar revoltas, fomentadas pelo despeito em relação à dinastia dos Sás - seu tio, seus filhos, sobrinhos e primos. A insurreição rebentou.





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Registros mencionados

23 de junho de 1601, sábadoID: 31064
Descrição de um índio Calchaqui
Atualizado em 25/07/2025 06:09:49
  
  
  


22 de abril de 1609, quarta-feiraID: 26807
BN. Biblioteca Nacional do Brasil. 22/04/1609 Carta de Dom Diogo de...
Atualizado em 25/02/2025 04:45:55
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3 de janeiro de 1631, sexta-feiraID: 31065
Decreto
Atualizado em 25/07/2025 06:05:30
  
  


28 de janeiro de 1660, quarta-feiraID: 19954
Salvador Correia de Sá se dirigiu à Câmara do Rio de Janeiro
Atualizado em 25/02/2025 04:42:46
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