DESCOBRIMENTO E DEVASSAMENTO DO TERRITORIODEMINAS GERAES (1)
O descobrimento do Brazil por Pedro Alvares Cabral, anno de 1500, & faustoso acontecimento que preenche a parte inicial da his- toria patria.Para reconhecer a forma e extensão da nova terra mandou o ven- turoso rei d. Manoel uma pequena frota, em que vinha como piloto Americo Vespucio.Esta expedição correu grande parte da costa brazileira, desco- brindo, entre outros portos, a bahia que foi denominada Rio de Ja- neiro, janeiro de 1502.
Feitas algumas outras explorações e applicadas de vez em quan- do algumas providencias de pouco alcance, como sendo de caracter temporario, para conservação do dominio, por muito empenhado nos negocios da India o governo portuguez foi descurando a possessão sul americana, deixando de povoal-a como era mister para seu apro- veitamento e conservação; no emtanto crescia a frequencia de na- vios francezes que, em tracto com os indios, vinhão carregar pau- brazil; e ainda carecia attender se a região do sul, em visinhança com a possessão hespanhola.
Reconhecida a indeclinavel necessidade de agir para firmeza de seu dominio, ordenou d. João III uma expedição ao mando de Mar-[p. 549]
tim Affonso de Souza, a quem ferão conferides grandes poderes, cum- prindo-lhe praticar actos necessarios de dominio e posso e especial- mente estabelecer a primeira povoação na terra brazilica; do que resultou a fundação da villa de S. Vicente.
Em sua derrota para o sul, fundeou Martim Affonso no porto do Rio de Janeiro aos 30 de abril de 1531.D‘abi mandou uns homens a explorarom o interior do paiz, os quaes forão certamente gulados pelos indios da terra.Pela parte de Minas Geraes osta é a primeira entrada de que ha memoria; consta do Diario da saregação le Fero Lopes de Souza (2), pag. 32, como segue:
" Daqui (to do Rio de Janeiro) mandou o capitam I. 4 homens pela terra dentro; e foram e vieram em 2 mezes: o andaram pela terra 115 leguas; e as 65 dellas foram por montanhas mui grandes e as 50 foram por um campo mui grande; e foram até darem com um grande rei, senhor de todos aquelles campos, o lles fez muita honra, e veo com elles até os entregar ao capitam i: e lhe trouxe muito cristal, e deu novas como no Rio Paraguay havia muito ouro e prata (3). O capitam lhe fez muita honra e lhe deu muitas dadivas, eo mandou tomar para as suas terras".
Ora, em seguida ás 65 leguas por montanhas mui grandes ( serras do Mar e da Mantiqueira), as 50 leguas por um campo mui grande achão se ser em Minas Geraes, região do campo (4). No seculo
9 Publicado pelo sr. Varnhagen, depois visconde de Porto Seguro, primeiramente em Lisboa, 18; outra edição na Revista do Instituto lis- torico, do Rio de Janeiro, XXIV, 181, pags. 9 e seguintes; nova edi- ção, Rio de Janeiro, 1967. A pag. eitada refere-se is duas ultimas edições.
3) Esta noticia denota que havia comunicação entre os aborigenes do centro do Minas Geraes e os do Paraguay. Além disso revela que nesse tempo 1. semestre de 1:31) já era morto Aleixo Garcia, o primeiro invasor do Perú: pois do seu espello em ouro e prata, que de lá havia trazido, foi que originou-se o boato da existencia dess metaes no Paraguay.
Entretanto, em agosto do mesmo anno, Francisco Chaves, que se acha- va em Cananéa, talvez ignorava esta noticia, ou a sua funesta significação, o que foi sem duvida causa do desastroso fim que lhe succeden, bem como toda a expedição que por sua solicitação mandon Martim Affonso- cum destino ao Paraguay, para dalli. repetir-se a conquista de riquezas no Peru. 1 No Tratado description to Brasil, de Gabriel Soares de Souza 171. Pario, eap. XXXIII, apparece a denominação etapo granite, es tendendo-se para o lado do Jequitinhonha.Referindo que Sebastião Fernandes Tourinho e sua gente se hasião adiantado pelo sertão até a altura do Lio de Janeiro, accrescenta autor: e chegando ao campo grande acharam alagias e riachos quenesto Rio Grande Jequitinhonha).ANam[p. 550]
ARCHIVO PUBLICO MINEIRO551XVII era esta região qualificada de campos geraes, assim conhecidos desde o morro da Boa Vista (municipio de Pouzo Alto) até os con- fins da Bahia (via rio das Velhas e S. Francisco).A menção de muito cristal, originario do campo grande, faz conhe- cer que os enviados de Martim Affonso andarão pela serra do Ita- tiaya ou por sua circumvisinhança; do que deprehendemos que havião tomado, em seu itinerario, a direcção segando a qual abriu. se, no começo do seculo XVII, o chamado caminho novo, do Rio de Janeiro para Minas Geraes: o qual, como se sabe, dirigis se pelo valle do Parahybuna.Nos tempos primitivos havia, pois, um caminho directo entre o porto do Rio de Janeiro e a serra do Itatiaya. Prolongava-se esse caminho pelos valles do rio das Velhas e S. Francisco.
Outro caminho contemporaneo era por certo o que ia do littoral, provavelmente Paraty (5), pela Mantiqueira e campos geraes em dire. cção à bacia do rio Doce. Na paragem da Paraupeba (S. Caetano, municipio de Queluz) este caminho cruzava com a linha Rio de Ja- neiro Parahybuna - Paraupeba - Itatiaya- Rio das Velhas (6), etc.-
Si Martim Affonso houvesse estabelecido no Rio de Janeiro povoa- ção, certamente ficaria mantida e frequentada a communicação com o campo grande; o que porém não succedeu.
Fundado muitos annos depois da cidade de S. Sebastião, o cami nho directo do campo grande, que sem duvida serviu para a retirada dos Tamoyos expulsos por Men de Så, foi pouco ou quasi nada apro- veitado pelos portuguezes, parecendo haver ficado por longo tempo conhecido somente dos indios até que delles omanou, presumivelmente, o conhecimento que serviu de base á abertura do caminho novo.(5) Temos para nós que a garganta ou passo da Mantiqueira, onde atravessa a estrada de ferro Minas e Rio, primitivamente servia para com- municação do littoral, provavelmente Paraty, com o paiz de serra acima. O caminho atravessava o Parahyba na paragem da Cachoeira.6) Escusado è dizer que uma parte desses nomes ainda não existião, geo graphicamente considerados.[p.]Segundo Varnhagen (7), o donatario da capitanía de Porto Se- guro, Pero do Campo Tourinho, fundou a sua primeira villa no pro- prio monte onde Cabral deixára plantado o signal da redempção. Os gentios do paiz parecião então ainda mansos e trataveis como se apresentarão acos primeiros descobridores.
Salvo algumas assaltadas que derão à nova colonia, esta gosava de alguma segurança e tranquillidade relativamente a outras capita nias, ficando os indios alli de paz e amizade com os portuguezes. (8)
Assim é que o ponto do territorio brasileiro onde desembarcou Pedro Alvares Cabral foi tambem aquelle donde mais facilmente en- tabolarão-se communicações com o interior do paiz, territorio de Minas Geraes. Taes communicações já erão praticadas desde os primeiros tempos do estabelecimento da villa de Porto Seguro, quando consta (1538) que os portuguezes da nova colonia entravão pela terra dentro e andavão lá 5 e 6 mezes.
Por esse tempo já se tinha levado a Porto Seguro, communicada pelos indios, a noticia da existencia de minas de ouro no interior do paiz (9), e tendo alli chegado Felippe de Guilhem (10) tirou disso um instrumento que remetteu a d. João III impetrando seu favor para buscar, e dar maneira como fossem descobrir as ditas minas (11).
(7) Historia Geral do Brasil, Madrid, 1854, pag. 18. Diremos Var- nhagen, em vez de visconde de Porto Seguro, por nos referirmos á primeira edição da sua obra.8 Esta situação favoravel ás explorações do interior por via de Porto Seguro foi mais tarde transtornada pela invasão dos Aymorés.
(9 A noticia desse facto remonta aos primeiros tempos a partir do descobrimento do Brasil, tendo sido colhida pela primeira expedição explo- radora do littoral, 1501-1502. De regresso em Lisboa escreveu Americo Ves pueio àcerca dessa viagem uma carta em que, referindo-so ás terras d Brasil, diz:
Metaes nenhuns ahi se encontram, excepto o ouro, do qual ha abun- dancia, si bem que desta viagem nenhum comnosco trouxemos; mas deramo nos delle noticia os habitantes, aflirmando que nos sertões havia muito mas que não o estimavam nem apreciavam. (Rev. do Inst. Hist.. XLI. 1878, Parte I, pag. 26.
No mappa de Ruysch, Lios, sobre a região denominada Terra Sante Crucis acha-se exarada uma legenda que diz:Insunt margarite atque auri marima cupid,Desse mappa ha uma reproducção inserta na mesma Revista, XI, 1877), Parte 11, junto à pag. 371.
A noticia colhida por Vespucio referia-se seta duvida ao supposto ouro da serra Sol da Terra.
Desse ouro em maxima abundancia, que os indios não estimavão nem apreciavão, não appareceu jamais uma prova de realidade e muitas di- igencias se fizerão para achal-o.
Desde o descobrimento do Brasil, muitos annos se passarão sem que seQueixava so Guilhem de não haver obtido solução, o que deve sem duvida attribuir so a ter o governo da metropole preferido commetter esta nexccio aos donatarios das capitanias. Ha indicio de havel o feito ao da de Parnambuco, Duarte Coelho Pereira, que em carta da- tada de Olinda aos 27 de abril de 1542, assim dava contas a d. João III:
quanto, senhor, ás cousas do ouro, nunca deixo de inquerir e procurar sobre o negocio e cada dia so esquentam mais as notas, mas como sejam daqui longe pelo meu sertão a dentro e se ha de passar por tres gerações de mui perversa e bestial gente e todos con- trarios uns dos outros, ha-se de passar esta jornada com muito pe- rigo e trabalho, para o qual me parece e assim a toda a minha gente que se não pode fazer senão indo eu, e ir como se deve ir e acometter a tal empreza para sahir com ella avante, etc. (12). "
Em outra carta (de 20 de dezembro de 1546) referia-se à almeja- da empresa do sertão como coura ainda por se realizar (13); o que ficou definitivamente sem effeito (14).
Thomé de Souza, o primeiro governador geral, trouxe a incum- bencia de promover o descobrimento das minas de ouro (15). Che gando & Bahia, mandou chamar, da parte d‘el-rei, a Felippe de Gui- lhem, o qual se achava na capitania de Ilhéos. Tambem poz-se em correspondencia o novo capitão de Porto Seguro, Duarte de Le mos. Tratava-se de dar execução àquelle emprehendimento.
Entretanto propalarão-se em Porto Seguro novas noticias refe rentes is riquezas mineraes do sertão.
Em carta datada daquella villa aos 6 de janeiro de 1550 (16). parte final, refere o padre Manoel da Nobrega : "Dizem que aqui se encontrará grande quantidade de ouro que pelas poucas forças dos christãos não está descoberto, e egualmente pedras preciosas".
Outra noticia, e mais circumstanciada, foi transmittida por Fe- lippe de Guillem na sua citada carta, topicos seguintes:(12) Brasil Hist., vol. cit., pag. 170.(135., pag. 173.
A expedição que Duarte Coelho Pereira tinha estado preparando parece que se destinava a entrar navegando pelo rio S. Francisco a dentro; na carta citada, referindo-se elle à desejada empreza do sertão, diz: e me puz a fazer bragantins novos.
14) No Tratado descript. do lirazil, 1. parte, cap. XX, refere GabrieSoares:
"Sobre esta pretenção (de descobrir o ouro veiu Duarte Coelho a Por- tugal, da sua capitania de Pernambuco, a primeira vez, e da segunda tam- bem teve desenho; mas desconcertou-se com S. A. pelo não fartar das hon- ras que pedia."
15 E de prata. V. nota 06.(16) Carta do Brazil, do padre Manoel da Nobrega, (1510- 1. Rio de janeiro. 1886, pags. 81-82.vear o Brasil, dizia o dr. Gouveia: aproveitarlo a terra, na qual não se sabe se ha mina de metaes, como pode haver, e converterão a gente à fé, etc. (Brasil Historico, . série, 1. pag. 161.
A primeira amostra de ouro, de que ha memoria, appareceu em 1551; mas este não era da mesma casta nem occorria sob a mesma forma geolo- gica daquelle que se inculcava em pomposas noticias.
(10) Acerca deste hespanhol refere Varnhagen (obra eit., 1, pag. 450:Guillem havia sido boticario em Sevilha, onde chegára a fazer repu- tação como grande jogador de xadrez. Havendo descoberto um novo meio para observar as longitudes, passou-se em 135, a Portugal, esperando que ahi the premiassem e adoptassem seu invento (Navarrete e Hist Naut., pags. 17, 182 e seguintes. Foi primeiro, em 157, empregado na casa da India. Em 1333 passou ao Brasil com Vasco Fernandes.A‘ pag. 4k, citando as obras de Gil Vicente, refere: Ahi se diz tam- bam que era Guillen grande logico e muito eloquente de muito boa pra- tica, que entre muitos sabedores o folgavam de ouvir; disse a el-rei que The queria dar a arte de leste a oéste, que tinha achada.... fez-lhe el-rei por isso mercê de cem mil réis de tença, c‘o habito e corretagem da casa da India, que valia muito.Pela sua carta de 150, adiante citada, vé-se que tendo Guillem enviu- vado e perdido um filho, ficára com tres illhas. Allegando os seus muitos serviços não remunerados e a penuria em que se achava, pediu que S. A. the mandasse pagar a tença do seu habito dos annos que no aBrsil se The não pagarão.Por alvará de 2 de abril de 1531 no Brasil Historico do dr. Mello Mo- raes, 2. série, 1, 141, pag. 215 mandou el-rel pagar-lhe a tença de 598)0 réis por anno a começar do 1. de janeiro do mesmo anno.Segundo Varnhagen, Guilhem foi depois para Porto Seguro, como pro- vedor, e ainda alli vivia aos 12 de março de 1vil, com 71 annos de edade, pois se conserva uma carta que então escreveu e mais adiante irá citada. 11) Carta da Felippe de Guillem datada da Bahia aos 20 de julho de1550.No Brasil list., vol. cit., pags. 187-198O Instituto Historico do Rio de Janeiro possue copia dessa e de outra carta, as quaes tigaram, sob n. 6, no Catalogo da Exp. de Hist. do Brasil[p. 553]
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