Comércio de Almas & Política Externa: A DIRETRIZ ATLÂNTICO-AFRICANA DA DIPLOMACIA IMPERIAL BRASILEIRA, 1822–1856
2011 Atualizado em 25/10/2025 19:15:46
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pagavam uma taxa de dez por cento em rolo de tabaco sobre o carregamento de suas embarcações na passagem pelo Castelo, que, outrora, fora de Portugal, e, os daomeanos, com os quais desenvolveram próximas e estreitas relações patrocinadas pelo comércio destemesmo produto. A forma como estes mercadores se impuseram diante das diretrizes políticase econômicas traçadas pelo governo português – e, posteriormente, pelo governo centralbrasileiro – com relação ao comércio com a África Ocidental, em muitas das vezes tomandopara si o papel de agentes independentes na manutenção das relações diretas com os régulosdo Daomé, é, pois, a questão fundamental do trabalho desenvolvido por Verger96.A partir disto nos são apresentados, um após outro, múltiplos e distintospersonagens, cada qual com a sua história particular. É nesse sentido que (re)surgem casos eepisódios até certo ponto conhecidos, porém, até então pouco documentados e/oucomprovados, como o caso do baiano João Basílio, que por cerca de vinte anos (1728-1743)foi o único encarregado pela Fortaleza em Ajudá. Ao longo deste período, e sem contar comqualquer auxílio material e/ou militar do governo português, João Basílio valeu-se tanto desuas próprias economias como de sua influência pessoal junto aos poderosos do Daomé paramanter a Fortaleza o que, por vezes, colocou-o em situação desfavorável97. Um outropersonagem que emerge da obra de Verger é o soteropolitano Francisco Felix de Souza que,em meio as primeiras formas de pressão e imposição operadas entre 1810 e 1817 pela GrãBretanha visando interromper o tráfico atlântico de escravos, desempenhou importante papelna realização do tráfico clandestino de escravos entre a Costa da Mina e a Bahia, chegando aostatus de Xaxá, isto é, de agente comercial do rei do Daomé, o que lhe garantiu e a sua famíliaa primazia absoluta no mercado de escravos de Ajudá98.Apoiado em documentos pouco ou nada conhecidos, Verger traz à tona,ainda, outras incontáveis formas de relações e de trajetórias de vidas que há muito existiramentre a Costa da Mina e a Bahia. Umas um tanto quanto obscuras, a exemplo do envio aLisboa e, posteriormente, ao Rio de Janeiro com passagens pré-determinadas por Salvador deembaixadores pelos reis do Daomé, Ardra e do Onim, entre 1750 e 1811, com o objetivo denegociarem o destino do comércio de escravos realizado em suas terras diretamente com osrepresentantes do primeiro escalão do governo português, quando, não diretamente com os soberanos de Portugal99.
Outras um tanto quanto inusitadas como é o caso de um conjunto de correspondências endereçadas ao imperador D. Pedro I, entre 1823 e 1830, enviadas por um certo Manuel Alves de Lima que se dizia emissário dos régulos africanos quando, na realidade, as únicas referências mais concretas sobre sua ocupação, segundo transcreve Verger, o davam apenas como mercador de escravos, logo, como um traficante de escravos. O que, é bem verdade, não era pouca coisa naquela época. Em uma destas correspondências, datada de 04 de dezembro de 1824, lê-se o seguinte:
Manoel Alves de Lima, Cavaleiro da Ordem de Nosso Senhor Jesus Christo[sic] e de São Thiago da Espada, Coronel da Corporação da Ilha de SãoNicolau, tudo pela graça de Sua Majestade o Rei Dom João VI, que Deus oGuarde, Embaixador de Sua Imperial Majestade do Benin e alguns reis deÁfrica, certifica e faz saber que sendo encarregado da Embaixada daquele Imperador do Benin para saudar e fazer saber a sua imperial Majestade Dom Pedro Primeiro, Perpétuo e Constitucional Defensor do Brasil, em nome do Imperador do Benin e Rei Ajan e alguns outros Reis Africanos, que eles reconhecem a Independência deste Império do Brasil e esta corte do Rio de Janeiro [...]100.
Embora possa pareça “à primeira vista obra de um louco, atacado de umdelírio de grandeza”101 o presente fragmento aponta para questões no mínimo instigantes e, ao mesmo tempo, reveladoras no que diz respeito ao grau de mobilidade de um traficante tanto do lado de cá quanto do lado de lá do oceano, no que se refere ao conhecimento e às formas de atuação dos pequenos reis africanos e da comunidade de traficantes diante da política de abolição internacional do tráfico transatlântico de escravos de sua época, e no que toca a solidez dos laços políticos e comerciais que uniam os destinos da África ao do Brasil.
Sobre a facilidade com que um grande traficante podia transitar entre os círculos de poder na África e no Brasil, devemos levar em consideração que, o sentido contextual do termo traficante, assim como do termo tráfico, foi outro do que conhecemos hoje. Ao contrário dos dias atuais, até pelo menos o ano de 1830, data em que as cláusulasproibitivas do tráfico atlântico de escravos acertadas pela Convenção anglo-brasileira de 1826 deveriam passar a vigorar, tráfico e traficante estiveram longe de ser expressões associadas à ilegalidade e/ou a uma prática vexatória e indigna. Vale lembrar que o tráfico consistiu, por muito tempo, no único meio de repor em larga escala a mão-de-obra tão necessária à agricultura de exportação do país, tendo em vista que, até pelo menos meados do Oitocentos, os moldes do escravismo brasileiro não previam a reprodução endógena do cativo102.Portanto, não causa estranheza alguma que o traficante, ou seja, o negociante diretamente envolvido com o comércio de homens, e, por conseguinte, com outras práticas e mercadorias que giravam em torno desta vultosa empresa, gozasse de relativo status social perante uma sociedade assentada em bases escravagistas. Diante disto, pode-se inferir que o fato de Manoel Alves Lima ser um grande traficante daquele período não desmerece, muito pelo contrário, corrobora a ideia dele possuir relações próximas senão com o imperador brasileiropelo menos com os “soberanos” africanos os quais dizia representar.
A segunda questão em jogo, a das formas de atuação dos pequenos reisafricanos e da comunidade de traficantes diante da política de abolição internacional docomércio intercontinental de escravos, o envio de embaixadas e a nomeação de proeminentestraficantes a embaixadores pelos reis africanos são inícios de que estes sempre estiverammuito bem a par das flutuações pelas quais vinha passando o tráfico. Tal constatação ilumina,por sua vez, um fator até então pouco explorado nos estudos sobre o tema: a disposição destesagentes em negociar e em procurar brechas que através das quais garantissem a continuidadeda referida prática da qual muito dependia não só a economia de seus reinos como alegitimidade de seus próprios reinados.Quanto à terceira e última questão, a da solidez das relações bilaterais entrea África e o Brasil, talvez seja este o ponto mais instigante da carta de Manuel Alves de Lima,pois o fato de os reis africanos anteciparem-se a Portugal e à Grã-Bretanha no reconhecimentoda independência brasileira, assim como do título imperial de D. Pedro I, aponta para novosprecedentes na história da política internacional relativa à supressão do tráfico transatlânticode escravos. Pois, ainda que o documento em questão não passasse digamos de uma pífiatentativa de excluir as potências européias, sobretudo, a Grã-Bretanha, das negociações emtorno de uma questão que interessava especialmente ao Brasil e aos reinos costeiros da ÁfricaOcidental, ele aponta para o fato concreto de que o Brasil como nação autônoma não havia,até então, firmado nenhum tratado ou convenção juntamente aos demais atores internacionaissobre o assunto, estando, portanto, teoricamente livre para celebrar acordos comerciais comqualquer régulo africano que assim lhe aprouvesse.No estudo desenvolvido por Pierre Verger o foco de análise recaiu, comoacabamos de ver, sobre aqueles que foram alijados das discussões sobre o fim do comércio de102 Para uma análise mais completa acerca da estrutura sócio-econômica da sociedade brasileira Oitocentista Cf.FRAGOSO, João Luís Ribeiro; FLORENTINO, Manolo Garcia. O arcaísmo como projeto: Mercadoatlântico, sociedade agrária e elite mercantil em uma economia colonial tardia Rio de Janeiro, c. 1790 – c.1840. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. [p. 42, 43]
ME|NCIONADOS• Registros mencionados (1): 04/12/1824 - Carta de Manuel Alves de Lima ao Imperador D. Pedro I EMERSON
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Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]
Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.
Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.
meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.
Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele: 1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689). 2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife. 3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias. 4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião. 5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio. 6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.
Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.
Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.
"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba
Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.