Em escala mais modesta, providências semelhantes tinham sido adotadas, aparentemente, desde 1586. Guarda -se na Biblioteca da Ajuda um rol manuscrito de mineiros, fundidores, ferreiros e outros oficiais trazidos às capitanias de baixo, que assim se chamavam então a de São Vicente e as outras existentes do Espírito Santo para o sul, entre aquele ano e o de 1604. Deduz-se dessa informação que, ao tempo do primeiro Governo de D. Francisco de Sousa, foram mandados vir um mineiro, dois fundidores, um lapidador de esmeraldas, um mestre de adubar pérolas, assim como um ferreiro prático e mestre de consertar foles (para fornos catalães?).
Logo depois, sob Diogo Botelho, fez-se vir, expressamente para a Capitania de São Vicente, um prático da Alemanha, com seu intérprete e língua, e um padre agostinho castelhano, dado por “grande mineiro”, com igual destino. Além desses, trazidos por iniciativa governamental, é possível que outros tenham chegado por conta própria, atraídos pelo que se propalava da opulência do Brasil.
São extremamente sumários, no entanto, os dados relativos à parte que teriam tido esses práticos e oficiais no incremento da mineração brasileira e vicentina. No rol mencionado, apenas de um deles consta o prenome: trata-se do lapidador de esmeraldas, chamado Mestre Cristóvão, e esse tudo faz para supor que se dirigiu à Capitania do Espírito Santo, onde se julgava existirem em grande cópia aquelas gemas. É possível, mas não indiscutível, que o mineiro da Alemanha fosse o mesmo que, com essa naturalidade e com o nome estropiado de Jaques Oalte (Walter? Walther?), aparece por esse tempo a propósito das pesquisas de minas de ouro. E, ainda, que o padre agostinho, “grande mineiro”, seria o mesmo Agostinho Soutomaior, nomeado provedor das minas do Brasil em 1591, depois de ter servido em Monomotapa e porventura nas índias de Castela. Contra essas identificações pesa, porém, o fato de figurar o alemão, tanto quanto o espanhol, na lista dos que trouxe Diogo Botelho: ora, este só virá ao Brasil, por governador-geral, em 1602, e Soutomaior já estava nomeado mais de um decênio antes, para vir com D. Francisco de Sousa, ao passo que Oalte é apontado entre os companheiros do mesmo D. Francisco em São Vicente, durante a viagem de 1599.
Além desses e de Cristóvão, o lapidador de esmeraldas, sabe-se que foi nomeado, pela mesma ocasião, feitor das minas, certo João Correia. Este, ou um homônimo, surge como vizinho da vila em 1593. Algum tempo depois encontra-se na mesma vila Geraldo Beting. Dado em velhos textos por alemão, como Oalte, houve recentemente quem objetasse a isso, dizendo que era flamengo. Não seria nem uma nem outra coisa se natural da Gueldria, como se pretende. Essas precisões, contudo, que hoje seriam obrigatórias, não parecem tão válidas numa época em que até os filhos dos Países Baixos católicos, que se manterão fiéis vassalos del-rei de Castela, se chamam “alemanes flamengos”.
De outro especialista na construção de engenhos de ferro que deixará, como Beting, ilustre descendência em São Paulo, figurando nela notáveis descobridores de minas de ouro, consta igualmente que era originário da Flandres. Nada porém se pode afirmar com segurança sobre a naturalida- de desse Cornélio de Arzing, cujo cognome, se era assim, foi logo aportu- guesado para Arzão ou Darsam.
Um dos obstáculos, aliás, a toda tentativa de se identificarem os técni- cos estrangeiros importados resulta precisamente dessa tendência generali- zada para a naturalização de seus apelidos. Certo flamengo de nome igno- rado e, ao que parece, arrevezado, passa a chamar-se, por exemplo, João Guimarães, como o inglês John Whithall se tinha convertido, ora em Leitão, ora em Ortega, e o francês Jean de Léry chegou a ser traduzido para João d’01iveira. De alguns dos que podem ter contribuído para iniciar os moradores no trato de metais e minas, só há notícia através de livros e arquivos de outras terras: é esse o caso do florentino Bacio de Filicaia, que serviu com D. Francisco de Sousa, e o do holandês Willem Jost ten Glimmer, prático em mineração, que chegará a participar de uma expedi- ção bandeirante aos sertões do São Francisco.
A coroa desinteressa-se ° aparecimento dessas personagens na capitania da exploração aurífera vicentina, justamente quando mais se propalam, e com maior precisão, notícias de achados e fundi- ções de metais preciosos, dificilmente se poderia atribuir a mero acaso. É certo que os frutos colhidos de tamanho esforço daqueles que os atraíram, cuidando desvendar logo, com seu auxílio, os tesouros mais fabulosos, pareceram corresponder muito mal a essas esperanças. O próprio D. Francisco de Sousa que, mais do que ninguém, se obstinou em perseguir tais fantasmas, morre paupérrimo na vila de São Paulo, tanto que, sem a piedade de um teatino, não teria sequer uma vela em sua agonia, a julgar pela versão de seu contemporâneo Frei Vicente do Salvador.
Seria preciso mais para explicar o arrefecimento, pouco depois, do zelo e entusiasmo suscitados na Corte pela novidade das grandes minas de São Vicente? A nomeação, em 1613, de Salvador Correia de Sá, o velho, para superintender as minas do sul, assemelha-se já, em alguns pontos, à liquida- ção forçada de uma empresa cujos proveitos não correspondem às grandiosas expectativas com que se anunciara. Apesar da experiência que se podia supor em quem, como Salvador Correia, se exercitara em Potosi no labor das minas, da diligência que pôs no incremento de lavras novas, e dos esforços contínuos que fez para atrair práticos de outras terras, o novo superintendente que, em contraste com D. Francisco de Sousa, pouco se demorou em São Paulo, preferindo permanecer no Rio de Janeiro, onde tinha propriedades, já não logrou convencer muita gente das vantagens que tiraria a Coroa de mais generosas inversões em negócio tão inseguro.
No Regimento que deu ao velho Correia de Sá, quando o despachou para o lugar que ocupara D. Francisco de Sousa, S. Majestade ainda se refere ao que lhe fora representado sobre as minas de ouro da Capitania de São Vicente que, beneficiadas, poderiam eventualmente ser de muita utilidade à Régia Fazenda e aos seus vassalos. De onde a conveniência de se mandar pessoa com experiência e zelo do Real Serviço a averiguar a verdade e certeza das ditas minas. [p. 279, 280]
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