“Proventus ad perpetuam”: criação de reservas de madeira e a idealização de um serviço florestal para a urbanização de São Paulo. Por NATASHA TSIFTZOGLOU - 01/01/2023
“Proventus ad perpetuam”: criação de reservas de madeira e a idealização de um serviço florestal para a urbanização de São Paulo. Por NATASHA TSIFTZOGLOU
2023 Atualizado em 10/09/2025 21:17:08
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machucado apresenta o animal abatido para a comunidade que assiste aterrorizada e caidesmaiado. Caá-Ubi não apenas salvou a menina que não sofreu nenhum dano, como tambémteria sobrevivido para contar a história.167Outra referência em relação à ameaça selvagem que a Cantareira representava às aldeiase primeiros colonos, encontra-se em Affonso de Freitas:Os veados eram sem conta nas pastarias gordas, mas em perseguiçãoapareciam os grandes felinos das mattas da Cantareira, a compartir com ohomem no banquete régio que era a devastação do providencial celeiro vivo,muitas vezes bandos de onças, acossados pelos indígenas e com a retiradacortada pelo lado do rio, cahiam espavoridos sobre a nascente povoação deSão Paulo do Campo com angustiosa surpresa e incontido terror dosmoradores.168O autor descreve esse primeiro cenário de ocupação indígena e colonial, que,estabelecida nas clareiras, entre medo e reverência, podiam contemplar as matas lá do alto,como um cenário “paradisíaco”. Affonso de Freitas conta uma novidade histórica ao leitor, queele pressupõe perplexo, ali no início do século XX. Que esse cenário belíssimo de rio navegável,montanhas de floresta e amplos vales paradisíacos, teria sido, um dia, o mesmo local ondeagora169 ficavam os bairros além-tietê. E que esse núcleo colonial, era o local preferido dosprimeiros habitantes de São Paulo:
Essa região paradisíaca era a Piratininga dos primitivos paulistas: tendo por centro os actuaes bairros de Campos Elyseos, da Luz e do Bom Retiro estendia-se, rio abaixo até a Barra Funda, desenvolvendo-se contra corrente em distancia que a documentação colligida ainda não autorisa limitar. Mas, ao leitor amigo pedimos suspender, por momentos, o esboçado sorrir de incredulidade e ouvir o porque da peremptória afirmativa nossa ser alli, no tão humilde Bom Retiro, no monótono Campos Elyseos, o paraiso terreal dos piratininguaras, a ignorada e, atravez dos séculos, tão procurada Piratininga dos nossos maiores. Como é sabido, como é indiscutivelmente certo, a igreja da Luz, foi edificada ermida por Domingos Luiz, o Carvoeiro, no mesmo local em que ainda hoje se ergue o Recolhimento de Nossa Senhora da Luz, e que era o Guaré contemporâneo da fundação de São Paulo: isto posto, e tomando por ponto de referencia esse mesmo Guaré e a própria capella erigida pela piedade do Carvoeiro, enumeremos a documentação elucidativa do que afirmamos 17 [p. 73]
Sabendo que sua afirmação seria polêmica uma vez que questionava a prerrogativa deserem as redondezas do pátio do colégio o núcleo principal de ocupação da cidade, ou, melhordizendo, o local de maior importância para história da ocupação paulista em São Paulo, eleresgatou documentos de concessão de terras para apresentar algumas fundamentações teóricasa partir da descrição de seus primeiros habitantes. A seguir, um breve relato dessas evidênciasapresentadas pelo autor171. Em 1595, João Maciel, contador, inquiridor e distribuidor da Villade São Paulo, obteve para si e sua família, sessenta braças craveiras de terra, de largura ecomprimento, entre Guaré e Piratininga. Em 1600, Gaspar Gomes Muacho, pediu “nada mais,nada menos que [...] todas as terras devolutas, a partir do rio Anhangabaú, desde a ponte doPiques pela rua da Consolação acima, na época, caminho dos Pinheiros até ao Pacaembú”, queera a “terra dos padres” concedida em 1561. A câmara lhe concedeu, no entanto, apenas sessentabraças craveiras em quadra, no caminho entre Piratininga e Pinheiros. Para o autor, tratava-sede dois documentos coevos que autenticavam a concessão de terras em percursos que faziamparte do bairro da Luz. Em 1601, Antonio Camacho recebeu duzentas braças de terra da testadade João Maciel, em Piratininga, a partir de um ribeirão que se chamava Guaré. Para o autor,seria um indicativo de permanência do território do Guaré como ponto de referência na regiãode Piratininga. Em 1608, Maria Alvares, viúva de Manoel Eannes, que morava de favor noTatuapé, obteve um pedaço de terra devoluta em Guaré, entre os rios Tamanduateí eAnhangabaú. Em julho do mesmo ano de 1608, a Câmara concedeu a Antonio Milão, umpedaço de terra que ia pelo caminho em direção a Nossa Senhora da Luz, caminho direito doGuarepe, de Ascenso Ribeiro até o Anhangabaú. Em dezembro, também de 1608, AntonioPina conseguiu cinquenta braças nos campos do Guarépe partindo da cabeceira de seu cunhado,Pedro Nogueira em direção à vila, ao longo do ribeiro do Tamanduateí. Em 1634, foi concedidaao cirurgião Antonio Vieira Bocarro, “um capão de mato que estava nas cercas de São Bento,do caminho que vae dessa villa para a Nossa Senhora da Luz de Guarépe, á mão direita, atéencostar na olaria de Salvador Pires”. Essas terras pertenciam a sesmaria do Mosteiro SãoBento, que eram terras “cortadas pelo caminho do Guaré, o qual manteve-se fechado, por algumtempo para não devassar os religiosos”. O autor afirmou que as terras do Mosteiro, quepassariam a ser de Antonio Vieira estavam compreendidas entre o que seriam as ruasAnhangabaú e 25 de Março - e o caminho do Guarepe, como a rua Florêncio de Abreu.A partir das descrições territoriais de cada um dos documentos, consideradas evidências,o autor afirma que não restam dúvidas que o tal Guaré localizava-se na “poética, lendaria e [p. 74]
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