No texto denominado de Presença Guarani no Planalto Médio, de autoria de Fabrício Vicroski e Tau Golin, apresentado como um capítulo do livro “A Formação étnica de Passo Fundo: história, memória e patrimônio”, organizado por J. C. Tedesco et alii, editado por Allprint Varella, em 2017, são apresentadas, entre outras contextualizações muito pertinentes, as prováveis rotas migratórias utilizadas há dois mil anos pelos povos guaranis em sua dispersão no território do hoje Estado do Rio Grande do Sul e a localização da Redução Jesuítica de Santa Teresa nas cabeceiras do Rio Jacuí, na comunidade de Povinho Velho, atual divisa entre os municípios de Passo Fundo e Mato Castelhano.
A Redução Jesuítica de Santa Teresa do Ygaí foi fundada pelo padre espanhol Francisco Ximenes no ano de 1632, inicialmente no Povinho Velho, atualmente município de Passo Fundo, e posteriormente transferida para outra localidade mais ao sul, no município de Ernestina, também nas proximidades do Rio Jacuí. Chegou a contar com quatro mil indígenas, plantações e campos de pastagens com cerca de 500 cabeças de gado. No ano de 1637 a Redução foi tomada por bandeirantes paulistas comandados por André Fernandes, quando os indígenas foram capturados para serem vendidos como escravos. No lugar da Redução, reconhecido como de localização estratégica, foi estabelecido o Fortim de Santa Teresa, que durante mais de três décadas serviu como base de apoio para a penetração lusobrasileira em direção ao interior do território rio-grandense – então domínio da coroa espanhola – auxiliando na tomada dos demais povoados missioneiros.
Embora a presença dos indígenas da etnia guarani seja predominante nos povoados missioneiros, a insuficiência de pesquisas sobre a Redução de Santa Teresa não permite determinar com exatidão a percentagem entre guaranis e jês (ancestrais dos atuais kaingangs) no aldeamento. Os autores sustentam que, apesar de pouco perceptível no fenótipo da população de Passo Fundo, acontribuição da etnia guarani para a formação do município é irrefutável. E que “o reconhecimento desta herança cultural e genética se torna ainda mais urgente diante do cenário hodierno de conflitos fundiários entre indígenas e agricultores, onde os ânimos inflados diante da parcimônia das autoridades governamentais mediadoras dos conflitos acabam por insuflar manifestações etnocêntricas entremeio a uma sociedade multicultural”.
