Conspirações, desordem e devassidão: o que foi a "pornocracia" na história dos Papas. Por Victor Bianchin, em revistagalileu.globo.com
4 de maio de 2025, domingo Atualizado em 05/05/2025 05:26:12
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“Pornocracia” (do grego pornokratia, ou "governo de prostitutas") foi o apelido de um período específico do século 10, entre 904 e 964, quando o Papado estava sob controle dos Condes de Túsculo, uma poderosa e inescrupulosa dinastia aristocrática. Atualmente, historiadores preferem chamar esse período de “Saeculum obscurum” (algo como “século sombrio”).
Antes da pornocracia
Para entender a pornocracia, precisamos voltar no tempo alguns séculos. Em 750, o Papa São Zacarias apoiou que a dinastia dos carolíngios derrubasse os merovíngios como reis dos francos. (Merovíngios e carolíngios eram dinastias, ou seja, famílias reais). Os francos eram um povo germânico que habitavam o que hoje é a França. Ao apoiar os carolíngios, o Papa criou uma aliança entre a Igreja e o Estado, e passou a ter poder político além do religioso.
Esse arranjo não deu muito certo: o Papa se achava mais importante que o imperador e vice-versa. Isso levou a diversas disputas de poderes que perduraram por séculos. As tensões foram aumentando, e isso culminou em diversos episódios de violência, como a morte do Papa João VIII (872-882), que foi assassinado por sua própria equipe. Para completar, era uma época difícil para a Europa, que vivia sob constantes invasões e saques de povos bárbaros, como os nortenhos e os sarracenos.
Um dos episódios mais bizarros dessa era foi o Sínodo do Cadáver, quando o Papa Estêvão VI (896-897) mandou exumar o corpo de seu antecessor, Papa Formoso (891-896). O Papa falecido era pró-carolíngio e havia coroado um imperador que não conseguiu se manter no poder. Estêvão VI, querendo mostrar serviço, colocou o morto na cadeira do réu, vestido com os robes oficiais, e o acusou de desejar apoderar-se da sede da Igreja Romana. Formoso foi considerado culpado e seu corpo foi jogado em um rio.
A pornocracia em si: Teofilato I e Marózia
A pornocracia começa logo após isso. Teofilato I (nascido em 864), o primeiro Conde de Túsculo, era um cônsul e senador muito ativo na nobreza romana. Ele e sua esposa, Teodora (conhecida também como Teodora, A Maior), eram muito próximos do Papa Sérgio III (904-911), que era inimigo de Formoso e havia mandado enforcar os dois últimos Papas.
A Filha de Teofilato I e Teodora, uma garota de quinze anos chamada Marózia, engravidou do Papa Sérgio III, unindo de vez a família ao poder. Quando Sérgio morreu, Teofilato colocou em seu lugar um aliado próximo, o Papa Anastácio III (911-913), sobre o qual se sabe muito pouco. Depois dele, veio o Papa Lando (913-914), outra escolha de Teofilato.
A essa altura, Teofilato I já era o governante de Roma de fato e seus familiares, os Condes de Túsculo, o ajudavam em suas tramóias. O próximo papa, João X (914-928), era supostamente um amante de Teodora. Ele foi um papa importante, conhecido por ser enérgico e por resolver conflitos entre as dioceses dos francos. Após sua morte, o escolhido para ser seu sucessor foi o filho de Marózia, que se tornou o Papa João XI (931-935). Há rumores de que João XI seria um suposto filho do Papa Sérgio III.
Com essa eleição, Marózia se tornou a governante de fato em Roma (Teofilato havia morrido em 925). Talvez por influência da mãe, João ultrajou os bizantinos ao permitir que o imperador Romano I, o Matador de Leões, instalasse seu filho de treze anos como patriarca de Constantinopla (932). O segundo marido de Marózia, Guido, havia morrido (conveniente, não?) e ela se casou com Hugo da Provença, rei da Itália e meio-irmão de Guido. Para evitar acusações de incesto, Hugo fingiu que Guido era filho adotivo, e não biológico, de sua mãe. De bobo, ele não tinha nada: Hugo queria ser imperador.
Mas ficou apenas na vontade porque, na festa de casamento, Hugo insultou Alberico II, filho de Marózia do primeiro casamento, ao exigir que ele os servisse à mesa. Quando o jovem recusou, Hugo encheu a mão e deu um tapão no rosto do menino. Então, Alberico II incitou a multidão romana a invadir o Castelo de Santo Ângelo, residência dos recém-casados. Hugo mal conseguiu escapar com vida e Marózia nunca mais foi vista. João XI permaneceu como Papa, mas com poderes diminuídos.
A pornocracia em si: Alberico II e Papa João XII
Alberico II tomou o lugar de Marózia como líder dos Condes de Túsculo. Em seu leito de morte, ele fez com que seus aliados e o papa prometessem eleger seu filho Otaviano, uma criança, como próximo Papa. E assim aconteceu: aos 18 anos de idade, em 955, Otaviano foi eleito e se tornou o Papa João XII (955-964). Fontes contemporâneas dizem que ele transformou o palácio papal em “um antro de desordem e devassidão”.
Ameaçado por derrotas militares, ele se aliou a Otto I, o Grande, rei da Alemanha, que foi até Roma protegê-lo. Em troca, João ungiu Otto e sua esposa Adelaide como Imperador e Imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico em 962. Não demorou muito para que João começasse a conspirar contra seu novo aliado, porém.
O imperador, furioso, retornou para julgar João diante de uma assembleia composta por clérigos, nobres e até um representante do povo. As acusações contra João incluíam: negligenciar o Ofício Divino, ordenar um diácono em um estábulo, adultério, incesto, cegueira e mutilação de padres, invocação de deuses pagãos e transformar “o lugar sagrado em um bordel e refúgio de prostitutas”. João foi deposto e substituído por um leigo de boa reputação, Leão VIII (963–965), que precisou ser ordenado às pressas em um único dia.
João XII, em suas conspirações, conseguiu depor Leão e voltar ao poder, mas não teve tempo de aproveitar: morreu na cama de uma mulher casada, sob circunstâncias misteriosas — as más línguas dizem que ele foi atacado pelo marido da dita cuja em um ataque de raiva.
O fim da pornocracia
Embora a morte de João XII marque o fim da pornocracia, a família de Teofilato I ainda elegeu mais cinco papas: Papa João XIII (965-972), Papa Bento VII (974-983), Papa Bento VIII (1012-1024), Papa João XIX (1024-1032) e Papa Bento IX (1032-1048). E é claro que a bazófia continuou em Roma e no círculo papal por muitos anos até isso começar a mudar com o Concílio de Latrão em 1059, que definiu que somente os cardeais-bispos teriam o direito de escolher o novo papa e que a influência do imperador seria apenas de aprovação simbólica, não mais de controle direto.
Sobre a pornocracia, é importante observar que a maioria dos relatos vem dos escritos de Liutprand de Cremona, bispo e cronista cujos registros são uma das maiores fontes de conhecimento sobre os acontecimentos do século 10. No entanto, seus relatos precisam ser lidos com cuidado, pois Cremona escrevia com vieses e com uma visão negativa sobre a sexualidade, mesmo entre os não religiosos. O fato de ser uma mulher (Marózia) no centro do conflito pode ter piorado as coisas. Além disso, o termo “pornocracia” só foi cunhado no século 19 por historiadores europeus que desprezavam a degradação moral do período.
Por fim, é preciso dizer que as traições, conspirações, assassinatos e adultérios não eram exclusivos de Roma no período — pelo contrário, diversas dinastias na Europa eram tão fanfarronas quanto. A Diocese de Roma, entretanto, era o núcleo mais importante de todo o cristianismo ocidental, por isso ganhou tanta atenção.
ME|NCIONADOS• Registros mencionados (5): 01/01/750 - *O Papa São Zacarias apoiou que a dinastia dos carolíngios derrubasse os merovíngios como reis dos francos 16/12/882 - Assassinato de João VIII, 107º Papa 01/01/897 - Estêvão VII ordenou que o cadáver do seu antecessor Formoso fosse exumado e conduzido à corte papal para julgamento* 01/01/904 - *Condes de Túsculo assumem o Papado 01/04/911 - Anastácio III torna-se o 120º Papa da Igreja Católica* EMERSON
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Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]
Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.
Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.
meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.
Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele: 1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689). 2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife. 3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias. 4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião. 5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio. 6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.
Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.
Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.
"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba
Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.